por Sulamita Esteliam
Não há nada mais nojento, indigno e odioso do que a pedofilia. É o abuso, o estupro elevado à enésima potência, e deveria ser punido pela Lei de Talião. Olho por olho, dente por dente.
A invasão do corpo de uma criança ou vulnerável, quando sobrevive, deixa marcas enquanto vida houver naquele corpo e mente. Não dá para esquecer. Não dá para perdoar, não dá.
E quando o abusador usa de seu poder econômico e/ou político e/ou afetivo para praticar o estupro – por que de violação se trata, haja ou não penetração -, então é que o crime se torna ainda mais repulsivo.
Não tenho estômago para ver os vídeos que circulam pelas redes de cenas de abuso de crianças pelo vereador bolsonarento do município do Rio de Janeiro, Gabriel Monteiro (PSD), ex-PM e Youtuber.
Ele não é o primeiro e, infelizmente, não será o último. Uma rápida busca na rede nos coloca diante de dezenas de casos Brasil afora. Contam com o silêncio conivente de autoridades constituídas – hoje incorporadas no desgoverno, que é estimulador militante de violações de direitos humanos em todas as áreas.
Mas é preciso que denúncias dessa gravidade – e no caso provas, há vídeos a rodo de sua ação com crianças de até 10 anos – não fiquem impunes.
Porque a impunidade agrava a dor e o trauma e dá corda ao abusador; seja ele de colarinho branco, conversa mole ou tosca, ou mãos sedosas ou lixentas.

Ainda mais grave são as denúncias do assassinato de três crianças e adolescentes indígenas Yanomami, depois de estupradas por garimpeiros. na região central do território conhecida como polo-base Kayanaú.
Não basta invadir, degradar e poluir a terra dos povos originários, a posse se estende aos corpos de mulheres e crianças. E também a apropriação de suas vidas.
O caso das mortes ocorreu em 2020, mas só vieram à tona após as entrevistas com indígenas nas aldeias mais afastadas e afetadas pelo garimpo.
As denúncias constam de relatório divulgado nesta segunda-feira, 10, pela Hutukara Associação Yanomami. O documento se baseia em relato de pesquisadores indígenas, antropólogos e tradutores das seis línguas faladas entre os Yanomami.
É revoltante. Há denúncias também de aliciamento, assédio de menores, violência e abuso sexual contra mulheres e crianças indígenas, muitas embriagadas e estupradas até a morte. Kayanaú não é caso único, infelizmente.
Ocorre que os habitantes das comunidades indígenas estão reféns dos garimpeiros, pois com a floresta, biodiversidade e rios devastados, já não podem caçar ou pescar.
Jovens têm sido forçados a trabalhar para os garimpeiros, que vendem porções de arroz que sobram dos acampamentos, em troca de ouro. E, no caso de mulheres e adolescentes, trocam comida por sexo.
Trechos dos relatório são de revirar o estômago e fazer o corpo tremer de indignação:
“Após os Yanomami solicitarem comida, os garimpeiros rebatem sempre. (…) ‘Vocês não peçam nossa comida à toa! É evidente que você não trouxe sua filha! Somente depois de deitar com tua filha eu irei te dar comida!’.
‘Se você tiver uma filha e a der para mim, eu vou fazer aterrizar uma grande quantidade de comida que você irá comer! Você se alimentará!’.
Os [garimpeiros] dizem: ‘Essa moça aqui. Essa tua filha que está aqui, é muito bonita!’. Então, os Yanomami respondem: ‘É minha filha!’. Quando falam assim, os garimpeiros apalpam as moças. Somente depois de apalpar é que dão um pouco de comida.
Os garimpeiros têm relação somente com as mulheres que tomaram cachaça. Os garimpeiros não conseguem com as mulheres que não tomaram cachaça.”
O documento relata também o avanço criminoso do garimpo ilegal em terras indígenas, sobretudo a partir de 2021, quando foi 45% em relação ao ano anterior. Desde 2016, a invasão em terra Yanomami cresceu 3.350%.
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