por Sulamita Esteliam
Bom, à véspera do Dia de Tiradentes, a boa notícia do dia vem da Suprema Corte, que resolveu mostrar-se, por robusta maioria, atenta aos riscos que faz tempo nossa infante democracia corre. E não é demais repetir o bordão: demorou!
A questão é que já nasce bichada para os efeitos práticos a que se destina: a condenação de Daniel Silveira por 10×1 a 8 anos e 9 meses de prisão em regime fechado, multa, perda de mandato e inegibilidade ainda está sujeita a revisão: cabe recurso ao próprio STF.
É o que diz a lei e a lei é para ser cumprida. Embora o réu tenha sido condenado por que é useiro e vezeiro de mandá-la às favas, para dizer o mínimo com certa cortesia.
Significa que o sujeito que, em tese, é legislador, mas afronta a lei que a casa a que pertence cria e a instituição-guardiã da Lei Maior, ainda pode concorrer a outro mandato eleitoral. E ele quer ser senador da República.
Ou alguém acredita que o trânsito em julgado da sentença ocorra antes de outubro deste ano?
A saber, claro, se a legenda a que se filia vai gastar indicação com peça trincada.
Resta-nos, ademais, contar com o bom senso do eleitor fluminense, o mesmo que o elegeu deputado federal, mesmo ele sendo quem é e fazendo questão de mostrar-se como é.
Queria muito que a imagem que abre esta postagem, para além do desagravo, representasse consequências reais no aqui e agora. Só que não é bem assim…
Aliás, o que o elegeu foi exatamente o aflorar dos sentimentos que parte de nós queria crer terem sido sepultados no oco do breu do mundo: o escárnio embutido no gesto de rasgar ao meio a placa Rua Marielle Franco não foi apenas medida de caráter, terminou um deboche eleitoreiro bem-sucedido.
Marielle acabara de ser executada. O sangue dela ainda tingia de angústia as ruas da capital mais bela do país.
A afronta à memória da vereadora negra, favelada, lésbica, mãe, feminista e defensora dos direitos humanos e das minorias, então recém-executada, foi usada como dissiminadora de ódio: para espantar a tristeza e a indignação que deveriam arder corações e mentes e atear fogo na aldeia formosa…
O desrespeito ao sofrimento da família e de todas as pessoas que a amavam é a renovação da morte, ato de vilania.
O desprezo à orfandade da gente que via nela a esperança de uma vida com alguma dignidade foi estupro de consciências. Overdose de tirana para estimular as papilas do preconceito, da ignorância.
Aí nasceram os votos que o elegeu e a outros tantos que nos degradam e envergonham.
Quatro anos passados, o país não sabe até hoje, ao menos oficialmente, quem mandou matar Marielle Franco! E ela, onde estiver, certamente, quer essa conta cobrada, com os devidos encargos.
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Postagem revista e editada às 11:03h: acréscimo da observação sobre a indicação de legenda para o réu; correção de erros de digitação.