por Sulamita Esteliam
Devastada. É assim que me sinto, e a consequência é que não consigo escrever nada que preste. Mas a fome aumentou. A fome só aumenta no mundo todo. Todavia, no Brasil a fome tinha vazado do mapa, lembra-se?
Não faz muito tempo, 2014, mas parece uma eternidade. E isso dá uma tristeza imensa.
Já são 33 milhões que não têm o que comer. Metade da população não se alimenta como deveria nem todo dia tem o que colocar no estômago: seis em cada dez brasileiras e brasileiros.
Há 125 milhões mais 200 mil pessoas que dormem dia sim, dia também, com a barriga roncando porque não comeu o suficiente ou comeu nadica de nada, osga – como diria minha irmã caçula.
É o que chamam de insegurança alimentar. Eufemismo sobre o qual martelamos, periodicamente, neste blogue: de dezembro de 2019 até este artigo, são 11 postagens, metade delas em 2021.
Acha que é exagero? Experimente ir para a cama com fome.

É isso: saco vazio não para em pé, que dirá inspirar, raciocinar, aprender, amar.
A fome no Brasil mais do que dobrou em relação a 2018. De maio de 2021 a abril deste ano são mais 19 milhões de pessoas famintas país afora.
E a dona fome tem cara: é mais grave nos lares chefiados por mulheres pretas e pardas: um em cada cinco.
São elas, as mulheres, que se expõem à situações de indignidade, como a da foto abaixo, que correu mundo, para conseguir algo para aplacar o oco no estômago de suas famílias.
Embora um em cada três brasileiros admitem ter se submetido a situações constrangedoras, digamos, para obter comida. A fome tem cara:

A coisa é mais feia entre os nordestinos: 22 milhões e 508 mil pessoas das cerca de 54 milhões que vivem nos nove estados do Nordeste brasileiro não comem devidamente, ou simplesmente não comem. Em maio de 2021, época do levantamento anterior, eram 7 milhões e 700 mil.
Palavra da Rede Penssan – Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, em estudo levado a cabo pelo Instituto Vox Populi.
Claro que a pandemia de Corovírus agravou a situação econômica e social em todo o Planeta, e aqui não é diferente. No entanto, o desgoverno não se restringe à gestão sanitária, econômica e política, é geral.
E, ao contrário do que se apregoa no Planalto Central, não se trata de fatalidade: é deliberada opção política, conforme resume, com firmeza Nilson de Paula, membro da coordenação Executiva da Rede Penssan e professor de pós-graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR):
“O país foi sendo conduzido para a beira do precipício. O que temos visto é um viés de apoio ao agronegócio em vez da agricultura familiar. A fome está diretamente alinhada ao agravamento da pobreza,”
Não se esqueça: o desmonte é projeto de poder.
*******
Fontes requisitadas:
Um comentário