Guerra Santa: poema da anunciação

por Sulamita Esteliam

Vou fazer diferente: começar a semana com poesia. É missão que me foi dada, Euzinha que acredito em conexões astrais.

Pois bem, o poema que transcrevo abaixo vem me azucrinando as ideias há semanas. Até que, na noite da segunda-feira pós-primeiro turno das eleições gerais, ele não me deixou dormir.

Madrugada alta, tomei o caderninho e o lápis, sentei na borda da cama e rascunhei alguns versos, e só então voltei a dormir.

Ao longo da semana lapidei, tomei emprestado os ouvidos do maridão e do filho; que me sugeriu inclusões. E aqui está – em texto e vídeo, postado lá no canal deste A Tal Mineira no Youtube, e no meu perfil no Instagram/@sulaesteliam:

GUERRA SANTA: poema da anunciação

Em nome do Pai.
Em nome do Filho.
Em nome da Mãe
que os pariu.
Em nome do Espirito
de Luz.
Em nome do Deus
da Misericórdia
e dos Anjos
que nos guardam.

Em nome das crianças
maltrapilhas
e famintas.
Estupradas
em sua inocência
por aves de rapina.
Em nome das mulheres
rotas,
desvalidas,
maltratadas.
Em nome das meninas
violadas,
prenhas de desamparo.
Em nome da família
perdida
nas brenhas
da intolerância
e da hipocrisia.

Em nome de cada corpo
negro, preto
tombado
pela violência
do racismo.
Em nome de cada vida
abortada
pela barbárie
da fome,
das armas,
das milícias,
do tráfego,
das fardas,
do tráfico.

Em nome de cada indígena
barbarizado pelo terror,
vilipendiado
em sua terra ancestral.
Em nome de cada mulher,
ou menina
dos povos germinais:
violentada,
desconfigurada
pelo invasor.

Em nome do rio
que não há mais,
das águas contaminadas
por minério,
pelo ódio,
por veneno,
e sangue.
Em nome da floresta
desfigurada
deflorada
pela ganância.
Em nome de cada mulher,
homem
e criança,
amores,
afetos
– e mais o futuro da gente –
sepultados
na vala
do descaso infame,
indigente.

Em nome das deserdadas
filhas de Lilith
e dos desviados
filhos de Eva.

Você, que louva
o senhor Teu Deus,
e crê
na força da prece
para a salvação,
diga se estou errada,
por caridade:
– Onde a conexão
da palavra
com o Divino?
– Em que confins
se escondeu a luz
da humanidade?
– Qual bala perdida
acerta o juízo,
quando a alma desconhece
a compaixão?
– Em que trilhas
se perdeu o amor
ao próximo,
quando só vale
o legado aos seus?

Mansão sigilosa
e secular
de Proteus.
Moral dissolvida
em coquetel
de viagra,
uísque
com lagosta
rachadinha
e leite condensado.

Em nome de Cristo
ou de Barrabás?

Palavras tortas
configuram
a negação do bem.
São guizos
que escravizam
a consciência.
São vendas
que dissimulam
o propósito
e renegam
a verdade.

Em nome de quem?

Guerra santa da blasfêmia.
Cruzada da Mistificação.
A Nação
dependurada
em brochas,
quepes
e coturnos.
A sustentar
falsos profetas
e cristãos
desnorteados
pelo Messias
falsificado.

Predadores!
Ilusionistas.
Fariseus.
Lobos e hienas
em pele
de cordeiro.
A mentira
em nome da fé.
É chorume,
crueldade
e desmantelo.

Mas o chicote
do tempo
leva de roldão
as correntes
de Hades.
É chegada a hora
do esperançar.
Siiim…
Não, não é quimera.
É energia
fraterna
o que move
o alvorecer
da nova era.

(Sulamita Esteliam: 04-10/10/2022)

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Postagem revista e atualizada em 11.10.22, às 18h39  em 17.10.2022: inclusão de estrofes do poema que foi excluída durante a transcrição do manuscrito para o digital. O video também foi regravado para incluir os trechos suprimidos, por descuido e afobamento, e repostado no Youtube e aqui no blogue. Minhas desculpas.

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