por Sulamita Esteliam
A caminhada pelo meu quintal é sempre deliciosa, mas justo nesse dia 13 teve sabor de quero mais. Pena que esta semana tenha exigido bastante desta velha escriba, e não fomos, Euzinha e o maridão, além de 5 km na areia, mais 2,5 km de asfalto, ida e volta.
Só depois percebi que o comedimento nos salvou.
Havia algo diferente no ar, no sorriso das pessoas – na rua, na praia, no mercado… Talvez pela expectativa da chegada de Lula, que estará no Recife nesta sexta.
Isso depois de périplo por Salvador, Aracaju e Maceió, onde arrastou multidões, a exemplo do Rio de Janeiro, Em Belford Roxo, na Rocinha e no Complexo do Alemão. Foi lá Ricardo Stuckert que capturou imagens emocionantes, como a que abre esta postagem e a foto abaixo.
Um conterrâneo de Beagá, que vive na na capital baiana, me enviou fotos do êxtase soteropolitano – não me sinto autorizada a publicá-las, porque me chegaram no particular. “Estou sob efeito até agora”, comentou.
Não obstante, ao contrário do que se tem dito e visto em outra regiões, mais do que sempre, durante esses tempos de campanha eleitoral, o povo estava finalmente mais solto e comunicativo.
Tipo o que diz uma charge com a graúna, do saudoso Henfil: “Estou vendo uma esperança!”
A essas horas, mais do que sempre, vejo o quanto tenho sorte de morar no Recife, no Nordeste, onde o vodu do capiroto não campeia. Bolsonarentos há, mas são minoria – que se assanha em tempos eleitorais, com bandeira nas janelas e bandeirolas nos carros.
Sou um cartaz ambulante em forma de gente. Desde setembro adotei meu vestido praieiro vermelho e preto – mais vermelho do que preto – deixando entrever o biquini também rubro no decote e pescoço, como traje de rua até a praia, e tudo o mais que preciso fazer no retorno.
Vou ter que comprar outro depois das eleições, porque tem sido bate-enxuga-usa. Do lado esquerdo do peito um adesivo vistoso, que guardei da campanha de Marília à Prefeitura do Recife, branco com coração de bom tamanho onde se amostra o 13.
Sim, é público que a deputada, que se elegeu com o 13, migrou para o Solidariedade, que acolheu sua candidatura ao governo do estado, rejeitada pelo PT. Agora, com as bençãos de Lula, o partido a apoia, e espera-se que não apenas oficialmente.
O chapéu do MST compõe o visual, e dá identidade e identificação imediatas: “É Lula!”, grita o afoito do carro em movimento, o taxista na fila de espera ao lado da igrejinha, o ambulante da praia, o ajudante do barraqueiro, a colega caminhante … Banhistas sorriem, L em riste.
Ganhei o boné do pessoal do Armazém do Campo, em abril passado, em edição do programa de rádio itinerante, ao vivo, nos mercados, feiras, praças públicas e pontos de cultura do Recife e entorno.
O projeto chama-se Banco de Feira, foca na cultura popular, e Euzinha apresento o quadro de abertura: Violência, Zero!, sobre literatura e direitos humanos. É semanal, nas manhãs de sábado, e tem apoio do Funcultura/Fundarpe/Secretaria de Cultura/Governo do Estado de Pernambuco.
Foi tão bom o astral da caminhada, que não atinei a passagem do Coisa-Ruim pela cidade, com pouso justo no meu quintal, mas lá pelas bandas do Pina. Vi depois nas redes.
Vexame: tinha mais areia do que gente, mostra a foto exposta nas redes pela mídia convencional.
Mais um vexame: depois da presença abusiva em Aparecida do Norte, no Dia da Padroeira, e na semana anterior, no Círio de Nazaré, em Belém do Pará.
É como diz o maridão, “é só deixar o Coiso solto, que ele tropeça nas próprias pernas”.
Imagino que fotógrafos e cinegrafistas tiveram, certamente, que abusar do zoom para garantir imagem do personagem-candidato. É que o cercadinho reservado à imprensa estava na praia, a centena e meia de metros do palanque onde o dito-cujo et caterva se postaram.
Entre eles, metros de areia, calçadão e parte do asfalto: vazios.
Só aí entendi a mulher, dos seus 30 e alguma coisa, branca, sorridente, vestida de amarelo e verde na fila do supermercado. Parecia recém-saída do banho.
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