Admitir a cultura do estupro é o primeiro passo no combate

Foto: Agência Brasil
Foto: Agência Brasil
por Sulamita Esteliam

Há 12 dias, a Polícia Civil do Rio de Janeiro encerrou o inquérito sobre o estupro coletivo da garota de 14 anos numa comunidade carioca. Sete homens foram iniciados pelo crime e dois estão presos. Cinco continuam foragidos, e há pedido de prisão preventiva contra eles.

A investigação constatou que não eram “mais de 30” estupradores, conforme se alardeou. O que não reduz a barbaridade do crime, exposto sem pudor nas redes sociais.

O Brasil e o mundo quedaram-se chocados.

A tentativa inicial do Estado em escamotear a barbárie causou revolta. A começar pela escolha inexplicável de entregar à delegacia de crimes cibernéticos, e não à Delegacia da Mulher ou da Criança e Adolescentes, o que trouxe questionamentos. A infelicidade do titular da pasta na condução inicial do caso, acabou contribuindo para tira-lo de cena.

Este e outros estupros que aconteceram no Piauí, na Bahia e no Mato Grosso despertaram as pessoas, mulheres em particular, para a indignação.

Uma campanha ganhou a blogosfera e as ruas, e se mantém  nas redes sociais, em protestos com multidões, do Oiapoque ao Chui.

Esfregam na nossa cara uma realidade da qual procuramos fugir, mas que precisamos combater: a cultura do estupro.

Temos e alimentamos – com o auxílio despudorado da mídia –  vergonhoso pedigree, que nos insere no fenômeno mundial da violência sexual misógina.

A delegada Cristiane Bento, da Criança e do Adolescente Vítima, que assumiu o caso, acha que falar e indignar-se “é pouco”.

–  “O poder público tem que dar mais estrutura, tem que investir em educação, no desenvolvimento das crianças, em assistência social”, disse ela em entrevista ao jornal El País, publicada dia 28.

Fim da cultura do estupro2
Foto: Mídia Ninja

Ela tem razão. Educação de gênero nas escolas, campanhas educativas de explicitação de direitos, estrutura de acolhimento e cidadania.

E pensar que o pouco que temos está sendo desmantelado pelo governo provisório e golpista e por esse Congresso desgovernado…

Não obstante, mães e pais podem começar educando suas crias de forma igualitária. Meninos e meninas com direitos e obrigações iguais, de respeito a si e ao outro. Ninguém é dono de ninguém.

Vai levar tempo. Mas é preciso começar já.

“O primeiro passo é admitir que a cultura do estupro existe.”

A frase é da bibliotecária Maísa França, uma das entrevistadas no programa Ver TV, que foi ao ar na TV Brasil/EBC na noite de domingo passado, e que é reprisado na madrugada desta quinta-feira, como acontece a cada edição.

Responde à pergunta que está na cabeça das mulheres e de todas as pessoas preocupadas em dar um basta à violência sexista.

Violência enraizada em nossa sociedade machista, patriarcal e misógina, que tem a mulher como objeto a ser comercializado e submetido.

Maísa é uma das autoras de artigo sobre o assunto, publicado no início de junho no sítio da Revista Pixel (.com.br), especializada na leitura crítica da televisão. Linha semelhante à que propõe o programa conduzido pelo professor e jornalista Lalo Leal, e que na última exibição trata, justamente, da Cultura do Estupro.

Tem como convidados e entrevistados gente habilitada a tratar do tema: o papel da mídia, especialmente a TV, na naturalização da violência sexista, que alimenta a cultura de que a culpa é da vítima, de seu comportamento, minimizando a atitude do agressor, do violador.

Nos estúdios participam, dentre outros, Jacira Mello, coordenadora do Instituto Patrícia Galvão, e membro da Rede Mulher e Mídia. Dentre as entrevistadas está a psicóloga Rachel Moreno, do Observatório da Mulher e também da RMM, autora do livro A Imagem da Mulher na Mídia.

É pedagógico. Vale muito à pena assistir.

Para quem não tem como acessar a TV Brasil, o programa está disponível no portal da EBC e também no YouTube. A Tal Mineira compartilha, para facilitar sua vida:

 

 

Eis o vídeo com a íntegra da fala de Rachel Moreno. É bem explicativa sobre o papel da mídia, sobretudo a TV, na reprodução dos esteriótipos reservados à mulher, o que acaba reforçando a violência sexista e naturalizando a cultura do estupro.

A exigir regulação social, como preconizam nossa Carta Magna e os vários tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário. Não é censura, é direito de cidadania.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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