por Sulamita Esteliam
O Recife se prepara para receber o ex-presidente Lula, nas próximas quinta e sexta-feiras, na quarta etapa da caravana Lula pelo Brasil pelos nove estados do Nordeste. No momento em que escrevo Lula está no Sergipe, aonde chegou no domingo e fica até a terça-feira, quando segue para as Alagoas.
Nesta segunda pela manhã recebeu, em Lagarto, no primeiro campus avançado no ensino superior da saúde, o título de Doutor Honoris Causa da UFS; o mesmo título que um juiz se apego às normas constitucionais tentou impedir por liminar.
Não é o primeiro, mas o vigésimo nono título de doutor, no Brasil e no exterior, como bem lembrou o professor, emocionado às lágrimas, que falou em nome do Conselho que lhe concedeu a honraria.
Nos versos do poeta cordelista e agrônomo, Joaquim Crispiniano Neto, lembrado:
É o Lula que vem em pau de arara
do flagelo da seca pra palácio.
O da Silva, o Luiz, o Lula Inácio
que perante as barreiras nunca para,
esse cara sem pose, é ele o cara
que é a cara tão cara de milhões,
que não treme perante as opressões,
que jamais se dobrou à ditadura.
é dureza dosada com ternura,
é o vento que arrasta multidões.
Lula chega ao Sergipe vindo da Bahia e vai até o Maranhão. Começou por Salvador, na quinta 17, cumpriu extensa maratona de visitas e atos públicos e visitou várias cidades, dentre elas São Francisco do Conde, onde foi paraninfo de turma de formandos na Unilab, resgate de herança ancestral.
Por onde passou foi celebrado, acarinhado, energizado. E por onde passou falou, sobretudo, para os pobres, para os jovens, a exemplo do que aconteceu no Festival da Juventude em Cruz das Almas, Bahia:
“A juventude não pode negar a política, precisa saber que não há saída fora dela. Nada de ficar com tempo ocioso. O tempo é de estudar, de aprender e de lutar.”
Respondeu também ao acinte dos podres poderes, cada vez mais sem noção e sem pudor.
Lula sabe, sempre soube que jamais fez parte da elite, embora seu carisma e a inevitabilidade de sua liderança, o tenha levado a transitar por ela. Todavia, chamais foi aceito por parcela majoritária dessa mesma elite.
E desde antes de ascender à direção do país, passou a ser desconstruído:
“Não adianta as pessoas tentarem me desanimar, porque eu tenho sangue nordestino e quem tem sangue nordestino não desiste nunca. Saio daqui com o coração mais forte.”
A máxima de que o nordestino é sobretudo um forte, cala fundo no coração de um homem que brotou na secura do Sertão, cruzou o agreste no lombo de um pau de arara para vicejar na dita terra das oportunidades, a São Paulo que, locomotiva do sul-sudeste, insiste em renegá-lo.
“Se eles têm vergonha de contar a história deles, nós não temos de contar a nossa. Eles cassaram a Dilma, mas não cassaram as coisas boas que essa mulher fez pelo país. E eles sabem que a minha história eles não vão apagar.”
Foi o primeiro dia do ex-presidente no estado. Além da capital e de Lagarto, ele visitará as cidades de Itabaiana e Nossa Senhora da Glória.
“Resolvi viajar o Brasil pra escutar vocês, ouvir vocês e discutir sonhos com vocês. E na hora em que a gente constrói um sonho, a gente começa a trabalhar pra esse sonho virar realidade.”
Sem utopia e sem generosidade, não há conhecimento e não há solução.
Como na frase do sociólogo e pensador pernambucano, Gilberto Freyre, evocada pelo reitor da Universidade Federal do Sergipe, Angelo Antoniolli, ao saudar o doutor Luiz Inácio Lula da Silva:
“O campo do saber deve ser como um rio, cujas águas doces, grossas, copiosas transbordem do indivíduo e se espalhe, estancando a sede dos outros. Sem um fio social, o saber será a maior de todas as nulidades.”
Há tempos escrevo aqui no A Tal Mineira que Lula e Dilma simbolizam um projeto de país que jamais esteve nos planos da elite plutocrata e da classe média iludida.
A tentativa de desconstruir Lula, que se intensificou a partir de 2005, e que se corporificou no golpe parlamentar-jurídico-midiático que depôs a presidenta a legítima, e segue na interminável operação Lava Jato, é movida pelo medo, pela mesquinharia e pelo preconceito.
Podem arvorar-se em detentores do direito divino, à vontade.
Você pode interromper um curso de rio, mas não a força da natureza. E Lula é isso, mais que a força da determinação de quem rompeu barreiras, é uma força da natureza.
O vídeo da cerimônia que concedeu o título de Doutor Honoris Causa a Luiz Inácio Lula da Silva é simbólico do que digo.
Fotos: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
PS: Compromissos pessoais na terrinha e, devo confessar, falta de disposição me deixaram longe do blogue desde o feriado da última terça-feira. Retomamos, pois, com novas energias.