por Sulamita Esteliam
Lula passou por Belo Horizonte como um cometa energizante.
E, ainda que reconhecendo que está caindo numa arapuca, palavras dele, não se furta à missão e diz, alto e bom tom: “Estou candidato”.
Quem não frequenta atos e não participa de atividades políticas tem dificuldades para entender.
Como assim, se ele foi condenado, se ele está impedido, se ele vai ser preso…!?
Ora, basta lembrar um pouco da história da humanidade, sobre perseguições, e resistência às injustiças.
Sim, é desobediência civil. Direito de cidadania, segundo Henry Toureau, levada à prática por Ghandi e Martin Luther King, cada qual ao seu modo, por exemplo.
Lula recuou no tempo e lembrou do que aconteceu a Tiradentes, o mártir da Inconfidência Mineira: de bandido, condenado, enforcado em praça pública, esquartejado, salgado e suas partes espalhadas pela colônia.
Depois, a República, que carecia de legitimidade, pois filha do golpe de Estado, transformou-o em herói da vitória das lutas pelas liberdades.
Poderia ter lembrado Nelson Mandela, ou Jean Valjean, personagem de Vitor Hugo em Os Miseráveis.
Nossas elites são assim, podres. Não admitem nada que contrarie seus interesses, que fuja ao seu umbigo. E povo alimentado, educado e com a senso à dignidade, é povo cidadão, que há de sempre cobrar a sua parte.
Para quem está na resistência, contra todas as aparências e narrativas de desconstrução de imagem, ouvir um discurso de Lula, é como tomar ribite na veia.
Mesmo que boa parte do conteúdo venha sendo repetido à exaustão, há pelo menos cinco anos.
“Aprendi a não baixar minha cabeça. Quero dizer pra aqueles que não querem que eu seja candidato: aprendam a lamber suas feridas e permitam que a democracia vença.”
Quando discursou no ato de celebração dos 38 anos do PT – e marco do lançamento da candidatura à Presidência da República, como definiu a presidenta nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann – Luiz Inácio Lula da Silva estava, no mínimo, há 15 horas no ar.
E o homem tem 72 anos!
Parecia um menino quando deu uma corridinha pelo palco para atender ao chamado de uma criança encarapitada sobre a grade da pista que avançava para o público: “Lula, vem cá!”
E ele foi. E se agachou para abraçar o “coleguinha” e outras crianças que se agitavam pelo direito ao afago (19m53 do vídeo que compartilho mais abaixo).
Rouco, falou com vigor, gesticulando, imprimindo ênfase e elevando o tom de voz quando cabia, artes em que é mestre.
Alinhavou os progressos do seus governos e da presidenta Dilma em benefício do país e de sua gente mais pobre.
Esquadrinhou o golpe que a derrubou, garfou direitos do povo e pretende encarcerá-lo para que não seja candidato.
Dissecou a perseguição jurídica de que tem sido alvo. Lawfare, em inglês.
Sintetizou a ópera em três frases:
“Quero dizer aos meus algozes: Prendam minha carne, mas as minhas ideias continuarão soltas. Não vão prender nossos sonhos”.
E lembrou:
“Quando prenderam Genoíno e Zé Dirceu, nós elegemos o Haddad.”
“Quando acharam que tinham nos destruído, elegemos a Dilma e o Pimentel (governador de Minas).”
Toda vez que eles tentam destruir o PT, nós nos reerguermos.
E fez troça, sem citá-los, com a criatividade dos patos e paneleiros do golpe:
“O problema não é o Lula, são os milhões de Lulas.”
Assista a íntegra do ato, que se deu no Expominas, na noite da quarta-feira, 21.
Uma noite que incluiu homenagem à professora Maria José Haueisen, 87 anos, fundadora do partido, deputada estadual por cinco legislaturas e ex-prefeita de Teófilo Otoni, que é estrela desde o dia 20.
Maria José Haueisen, presente!
Uma noite de discursos incisivos, do presidente da CUT Nacional e representante da Frente Brasil Popular; do governador de Minas, Fernando Pimentel.
Mas, além da fala de Lula, o discurso assertivo e combativo da presidenta do PT, senadora Gleisi Hoffmann (aos 21m40s do vídeo), que pontuou as razões dos embargos de declaração apresentados pela defesa do ex-presidente ao STJ.
“Há, na sentença de Sérgio Moro, validada e expandida por unanimidade pelo TRF-4, simplesmente 38 omissões, 16 contradições e cinco obscuridades.”
“Nós não temos medo de vocês. Podem vir que nós vamos enfrentar. Lula é nosso candidato. É candidato de parcela expressiva da população. O PT não tem plano B.”
Lula fala a partir do minuto 43:
Ainda na manhã da quarta-feira, Lula visitou a Colônia Santa Isabel, em Betim, onde antes havia o Leprosário Santa Isabel.
Parcela ínfima, mas carregada de simbolismo, dos “milhões de Lula” deste Brasil de meu Deus.
Há um foto de arrepiar, do encontro de mãos mutiladas: a de Lula, pelo acidente de trabalho de que foi vítima na juventude; e a de uma senhora, carcomidos pela doença.
Obra do Ricardo Stuckert, um artista da lente, que abre esta postagem. Ao lado, um poema do mineiro Adilson de Souza, filho de Zulmira, a dona da outra mão.
Lepra é curável. A mulher que teve os dedos mutilados não teria chegado a esse estado se tivesse tido o tratamento adequado. Quem se importa!?
“Esse país não é construído só pelas pessoas que moram em apartamentos chiques. E não pode ser governado só para os poucos que moram em mansões.”
Lula promulgou a Lei 11.520, em setembro de 2007, que ampara todos os brasileiros submetidos ao isolamento compulsório em hospitais-colônia até 1986.
A partir daí, essa gente passou a ter direito a pensão vitalícia, como forma de indenização
Por essas e outras, a casa-grande e seus acólitos, e arautos, piram.
PS: Comprometi-me em atualizar o blogue assim que o dia clareasse e Euzinha acordasse. Não dormi o dia inteiro, até porque não consigo. Mas dividi as teclinhas com outras atividades, e o resultado é que só dei conta de terminar há pouco. Há dias que é desse jeito.
Buenas!
Muito bom Sula! Parabéns!
Obrigada, querida Rosa. Saudades de vc. Xêros.
Excelente texto, prezada jornalista. O texto está tão bem posto que não cabe acrescentar a ele nem mesmo uma vírgula. Parabéns !!
Desculpe-me a demora na resposta.Obrigada, caro Cícero.Sua presença e cometário sempre honram este blogue.