O cão do arbítrio está solto e de caso com a cadela do fascismo

A que ponto chegamos… – Foto capturada no Jornal GGN
Ataque a um dos ônibus da Caravana Lula pelo Brasil no Sul do País se deu no início da noite, na estrada entre Quedas do Iguaçu e Laranjeiras, no Paraná – Foto: Twitter/Brasil de Fato
por Sulamita Esteliam

É tanto desmantelo, que ando tentando desviar um pouco a atenção dessa suruba arbitrária em que se transformou o Brasil. Na segundona, por exemplo, cedi aos apelos do maridão, igualmente enfastiado, e passamos a tarde e boa parte da noite agarrados na tela plana, vendo um episódio atrás do outro da série Lúcifer.

Não, o pobre do Diabo não tem nada a ver com a desfaçatez que campeia. O que anda solto, embora nada leve, é o cão do arbítrio. E de caso com a cadela do fascismo,aquela que, segundo Brecht, está sempre no cio. Amancebaram-se de vez.

É o que o senador fluminense Lindberg Farias chama de “escalada fascista” que caracteriza a nova fase do golpe. E da qual a caravana do ex-presidente Lula pelo Sul do País tem sido alvo. As agressões começaram no Rio Grande do Sul, continuaram em Santa Catarina, e agora se repetem no Paraná.

Com o agravante de que agora balas, aos invés de pedras ou ovos. Nesta terça,  um dos ônibus da Caravana Lula pelo Brasil/Sul foi atingido por um tiro, relata o Brasil de Fato no Twitter (foto acima). Não há feridos, que não a democracia, e a caravana segue até o final, nesta quarta, 28 em Curitiba.

Por conta dos antecedentes, nesta terça um ofício da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Câmara foi encaminhado ao (des)ministro da (in)Segurança, Raul Jugmann, pedindo providências.

As fotos que abrem esta postagem ilustram de forma lapidar a que ponto chegam as consequências do discurso de ódio inaugurado pelos derrotados das eleições de 2014; e alimentado diuturnamente pela mídia venal; pior, por agentes do Estado, do próprio sistema jurídico cuja missão deveria ser aplicar a lei e defender a cidadania.

A primeira é a imagem a que Lindbergh faz referência da tribuna: um fazendeiro brande o chicote sobre o lombo de um agricultor, um manifestante pró-Lula. Posto o vídeo do pronunciamento mais abaixo.

 

 

Dentre as vítimas da selvageria, o padre pacifista Idalino Alflen, de 64 anos, atingido por uma pedrada e atropelado por um motociclista quando se dirigia para o ato com Lula e Foz do Iguaçu, Santa Catarina.

Não, não parou na execução de Marielle Franco, vereadora do Psol no Rio de Janeiro, e do motorista Anderson Gomes, que faz 15 dias nesta quarta. Aliás, tem ato em homenagem a eles na capital e também aos 50 anos do assassinato do estudante Edson Luís pela ditadura civil-militar fruto de outro golpe, o de 1964.

Mostra sua face sombria, covarde e dissimulada, também no ativismo jurídico-policial, que fez de Lula réu para impedi-lo de ser candidato, que lhe recusa o direito previsto na Constituição.

Mas que se manifesta, também e agora, na prisão o padre Amaro, da Comissão Pastoral da Terra, em Anapu, no Pará. Prenderam-no, agora é moda, “num processo de investigação de denúncia sobre tráfico de drogas”.

Ele que é uma liderança comunitária respeitada, conhecida por sua defesa da regularização fundiária e de assentamentos para famílias. Registre-se que é uma região marcada por gravíssimos conflitos de terra e violência letal contra lideranças.

A revista Fórum lembra, inclusive, que recentemente Padre Amaro foi tema de matéria no Financial Times, apontando que ele seria alvo de campanhas de difamação com o objetivo de deslegitimar sua ação social e pelo enfrentamento dos fazendeiros locais.

Teme-se que o padre seja encaminhado para o presídio onde cumpre pena um dos assassinos de Dorothy Stang, morta em 2005 no PDS Esperança, que trabalhava na mesma linha de Amaro.

A presidenta Dilma Rosseff, a legítima, e o ex-chanceler brasileiro e ex-ministro da Defesa, Celso Amorim, têm razão em denunciar a violência política à imprensa internacional. Não se pode calar diante do fascismo e da covardia da barbárie para calar adversários, para tentar silenciar quem pensa diferente dessa escória política.

O caminho do Brasil e de seu povo tem que ser o reencontro com a democracia e a liberdade.

 

Sim, O Mecanismo é uma série Netflix. Mas antes que alguém me jogue pedras, devo dizer que não vi e não gostei, e me manifeitei na página do provedor da propalada série Mecanismo. Só o título repugna.

Assim como não vi e não gosto do trabalho do José Padilha, nadica, nem Tropa de Elite, de que só assisti o trailler. Para mim, ele é o que é: um oportunista de mão cheia, talentoso captador de dinheiro, qualquer que seja o argumento a ser trabalhado. É, por assim dizer, um precursor do fake news adaptado à telona.  Além de ser um grosseirão machista. Tudo junto, diz bem do seu caráter.

Não está sozinho, entretanto.

Quem se lembra do filmete sobre a Lava Jato, alguém viu? Policia Federal, a Lei é para Todos”, de Marcelo Antunez, só fez sucesso no lançamento para convidados, dentre eles o justiceiro Sérgio Moro e seu dublê carioca, Marcelo Bretas, em Curitiba.

No Festival de Berlim foi um retumbante fracasso. Na contramão, o filme O Processo, de Maria Augusta Ramos, foi aplaudido de pé no evento que é um dos mais aclamados do cinema mundial.

Trata-se O Mecanismo, exatamente, de  exemplar da engrenagem falsas narrativas. Tão caras, aliás, ao assassinato de reputações que tem-se tornado habitual nestes trópicos, como bem pontua a presidenta Dilma Rousseff, a legítima, em Nota de Esclarecimento. Divulgada no domingo, 25, está vertida também para o espanhol e para o inglês.

“O cineasta faz ficção ao tratar da história do país, mas sem avisar a opinião pública. Declara basear-se em fatos reais e com isso tenta dissimular o que está  fazendo, ao inventar passagens e distorcer os fatos reais da história para emoldurar a realidade à sua maneira e ao seu bel prazer.”

“El cineasta hace ficción con la historia del país, pero sin avisar a la opinión pública. Declara basarse en hechos reales y con esto intenta disimular lo que está haciendo, al inventar fragmentos y distorsionar los hechos reales de la historia para encuadrar la realidad a su manera y a su beneplácito.”

“Padilha has made a fictional account of Brazilian history, but he hasn’t informed this to the audience. He declares it as based on real events and, in an underhanded manner, completely makes up passages and distorts the real facts of history to mold a reality his way, for his own pleasure.”

Embora aqui em casa todos gostemos de série, e ninguém ligue a TV a não ser para ampliar a tela para ver séries e filmes. Não nos recusamos a ser expulsos do paraíso, parta de onde partir a vontade. Mas sabemos muito bem que o inferno são os outros.

Ocorre que aqui, no recôndito do lar Esteliam & Soares Teixeira, temos a estranha mania de radicalizar no exercício democrático – naturalmente que para além do controle remoto. Assim, nos consultamos antes de tomar atitudes que nos afetam individual e/ou coletivamente; e nossa filha está viajando. Trataremos do assunto quando ela retornar.

Digo que Euzinha, pessoalmente, sou pelo cancelamento. Sempre há opção na concorrência.

 

 

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