O poder negro feminino e a proteção ancestral para segurar o tranco, no campo e na cidade

por Sulamita Esteliam

Uma amiga de Minas, multi-artista, me presenteou no início do ano com uma Abayomi, que em iorubá significa “encontro precioso”. Uma calunga negra, toda de pano, amarrado ou trançado, flexível, sem marca de olhos, nariz ou boca para calhar às múltiplas identidades étnicas africanas. Lembrei-me dela neste  25 de julho, pródigo em celebrações.

Dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural; Dia Nacional de Tereza Benguela, líder quilombola do Quariterê, no Mato Grosso, e portanto Dia da Mulher Negra no Brasil. Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.

Eda Costa. uma irmã querida, me conta que a boneca simboliza a resistência e o poder feminino, e traz proteção.

As mulheres traficadas para o Brasil rasgavam as saias e, com os retalhos, faziam bonecas para acalantar as crianças nos navios negreiros. Daí que a calunga traz alegria para quem a possui.

Meu exemplar, a própria Eda artesanou. E, privilégio dos privilégios, é igualzinha a que presenteou a querida e honrada presidenta Dilma Rousseff, a legítima.

  • Se você quer uma Abayomi, faça contato com a Eda Costa pelo zap: +55 31 99195.4011// +55 31 98778;0799 ou  pelo correio eletrônico costarenzulli@gmail.com .

O 25 de julho é, na verdade, um dia de luta que deve unificar forças da gente trabalhadora do campo e da cidade.

É impossível esquecer os séculos de escravidão no último País do mundo a libertar seus cativos, e o que essa herança escravagista provoca, desde sempre e ainda hoje, em nossa Nação; sobretudo aos negros deserdados da Terra Brazilis, e especialmente as mulheres negras.

Negros e negras foram trazidos para o Brasil para suprir a carência de mão de obra nas lavouras das fazendas de café no Sudeste e usinas de cana de açúcar. Já que o índio, no geral, não se submetia à exploração do trabalho em local fixo, era senhor do seu território, e por isso foi dizimado.

A mulher negra era obrigada a servir do eito ao leito, passando pela cozinha e pela copa. Forma um exército de mão de obra doméstica, que, só 500 anos depois reconhecida em seus direitos.

E ainda hoje o País que suspira ao balanço das cadeiras é o mesmo que mantém a escravatura das carências, da desigualdade, da discriminação até na hora de parir.

Nem os governos populares do PT, que retirou milhões da miséria, a maioria negra, conseguiu exterminar com o racismo institucional. do qual não se escapa nem na morte.

Seleção de negro e negra, boa, é só na hora do baculejo, da prisão, do assédio, do estupro e da morte, por que se é negro, por que se é negra. Exceção feita às artes e ao esporte, e mesmo assim, não se escapa ao preconceito.

Não obstante, chegou à universidade, galgou postos de comando, sobretudo no setor público. Empoderou-se ao exigir seu lugar no mundo. Apesar de.

Por conta disso e outras coisinhas mais que aproximam negros, mulheres e miseráveis a um mínimo de dignidade, aqui uma presidenta foi derrubada, e um ex-presidente está na cadeia para não voltar a se engraçar com essa história de igualdes e cidadania.

Entretanto, quem, como Eda Costa, chega lá ainda é a exceção da exceção; é quem escapa, ou subverte, o racismo estrutural. Como bem lembra a escritora mineiro-carioca Conceição Evaristo, candidata a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras,que cita o próprio exemplo em entrevista ao Brasil de Fato, reproduzida pelo Geledés.

Este dia é, portanto, de luta, mas também para render homenagens, sim, a quem, mais do que todas e todos, sabe o que é carregar o Brasil e a Latino-América no lombo.

Fecho com os versos e a voz de Deusa, que me chegam via Coalas Mineiras. É de arrepiar!

 

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