por Sulamita Esteliam
Estou muito feliz e grata pela acolhida do livro Em Nome da Filha. Esta velha escriba, enfim, consegue trazê-lo a público pela Editora Viseu, Paraná/2018, depois de 13 anos na gaveta e mais alguns meses de espectativa.
Mas, como diz uma amiga-irmã, obstinação é comigo mesma. E tenho sorte de contar com amigxs onde quer que Euzinha vá.
A receptividade tem sido ótima entre amigxs, nas redes sociais e em meios de comunicação alternativos. E não apenas no Recife, que é onde se dá o lançamento oficial, neste sábado, 23, às 20 horas, na Villa Ritinha, Boa Vista.
O carro da divulgação quem puxou foi a Rádio Paulo Freire, dia 07, quando participei de entrevista-comemorativa do Dia Internacional da Mulher no programa Codinome Resistência. Graças à amiga Ana Veloso, que é professora de Jornalismo na UFPE, e que assina o prefácio do livro.
O Brasil de Fato fez matéria sobre o lançamento, postada dia 20, pelas mãos da editora Monyse Ravenna. Dica da amiga Laudenice Oliveira, que me deu os contatos também para o Marco Zero Conteúdo, portal nativo de jornalismo independente, e dos bons.
No MZ Conteúdo, excelente reportagem de Débora Britto, resgata, inclusive, a entrevista que fiz com Gercina para o Jornal dos Bancários, da qual brotou a ideia do livro, em 1991.
Meu amigo Zé Carlos, lá de Camboriú, em Santa Catarina, compartilhou no seu blogue Contexto Livre. O A Tal Mineira vai nesse mote e transcreve a íntegra mais abaixo.
Também o Bom Dia Pernambuco, da TV Globo Nordeste, ora veja só, divulgou o evento na agenda cultural de fim de semana. Obrigada à equipe.
Esta reles escriba é convidada para a edição da segunda-feira do telejornal, para falar sobre o livro e o contexto da violência contra a mulher. Vou ter que madrugar, mas o que a gente não faz pela causa…?
Não é só por que a história do livro já rendeu manchetes no passado. Creio que o tema relacionamento abusivo e feminicídio cala fundo em corações e mentes.
Ainda bem. A ideia é essa, botar na roda, alertar, educar, cobrar, para ver se um dia estanca a sangria.
Fato é que o assunto cala fundo na deformação da sociedade machista e patriarcal, onde a posse vale mais do que as pessoas e determina o mando. E se essa pessoa é mulher, faz parte do legado ancestral. Daí que se pode dispor a bel prazer ou furor – para o bem e para o mal.
Já passou da hora, e muito, de acabar com isso. Entornar esse caldo de cultura que, incompreensivelmente, alimenta o ódio, a misoginia.
Não bastam leis, necessárias. Leis existem de sobra, e temos as melhores neste campo: a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, que punem com rigor a violência contra a mulher, por ser mulher.
Para mim, a gente só vai conseguir um basta, se começar a educar meninos e meninas de forma igualitária em direitos e obrigações. Educá-lxs para se bastarem, para respeitarem a si e a outra pessoa, para conseguirem ouvir e dizer não sem que o mundo desabe sobre suas cabeças e emoções.
Gercina, Mônica, Diego e Narciso, onde estiverem, devem estar bem contentes com a expectativa de alastramento da história pela qual esgotaram as próprias vidas.
Tomara, a divulgação chegue aos sobreviventes da família central desta saga devastadora. Sobretudo o menino-testemunha da morte da mãe, a quem dei nome de Eduardo no livro, para protegê-lo, e que hoje é homem feito, por volta de seus 30 anos, completados em dezembro último. Não consegui localizá-los, os contatos de que disponho, de década e meia atrás, já não valem, e não consegui localizá-los nas redes sociais.
A ansiedade começa a baixar. Amanhã é o primeiro do resto dos nossos dias – meus e do livro. Que o Universo siga bom cúmplice.
Em nome da Filha, uma história para desnaturalizar o “amor” que mata
por Débora Britto – no Marco Zero Conteúdo
1991, o assassinato de uma jovem chocou a imprensa e a sociedade pernambucanas, mas não acabou ali. Mônica Francisca da Silva Lima tinha 20 anos, boa parte da vida perseguida pelo cabo Carlos Antônio de Assis Callou, condenado pelo assassinato a 17 anos de prisão. Ainda que o termo feminicídio não existisse na época, Gercina Francisca, mãe de Mônica, sabia, no íntimo, que a filha teve a vida aterrorizada pelo fato de ser uma mulher. Depois do crime, a briga para conseguir a punição do culpado consumiu a família, que sofreu perseguições ao longo dos anos.
O romance reportagem Em nome da Filha, da jornalista mineira Sulamita Esteliam, reconstrói a história de Mônica e a saga por justiça da mãe da vítima. A autora conheceu Gercina sete anos depois do crime, quando ela batia de porta em porta em sindicatos, movimentos sociais e organizações para pedir ajuda e apoio à sua luta. Na época, Sulamita era assessora de comunicação no Sindicato dos Bancários de Pernambuco e foi no jornal da entidade que publicou uma entrevista com Gercina.
“Mônica tinha 13 anos quando ele começou a persegui-la. A mãe, quando percebeu, tentou impedir. A menina se casou cedo com outra pessoa. Mas, mesmo casada, ele continuou perseguindo. O cabo não deu sossego, ele a perseguiu a vida inteira. Era uma relação de amor e medo. Ela chegou a ter uma relação com Carlos Antônio. Uma história maluca. A mãe dela era feminista, líder comunitária, de pensamento mais aberto. Aquela história de sempre, até que um dia ele botou fogo em Mônica”, relembra Sulamita.

Durante vinte anos, a jornalista pesquisou, acompanhou a família e escreveu sobre o caso e seus desdobramentos. A proposta de escrever o livro veio de Gercina, no primeiro encontro com a jornalista. “Ela perguntou: ‘Tá arrepiada aí, né? Isso dá um livro’. E perguntou se eu queria escrever. Ela disse que achava que era a filha soprando no ouvido”, conta Sulamita. Foram 5 anos entre pesquisa e escrita. O livro foi finalizado em 2005, mas precisou de 14 anos para ser publicado.
A única condição da jornalista foi tentar ouvir o Cabo Callou, como era conhecido, mas ele se negou a conceder entrevista. Apesar disso, Sulamita escreve um livro a partir das duas mulheres – Mônica, silenciada brutalmente, e Gercina, que tomou como missão da própria vida fazer justiça pela filha. Além das batalhas pela condenação, Gercina precisou estar na linha de frente do caso e cuidar da família traumatiza, em especial dos dois netos. O mais novo testemunhou o assassinato da mãe e carregou o trauma consigo.
À época, o crime foi chamado de “tragédia anunciada”. O livro aponta as fragilidades dessa narrativa e questiona as instituições que foram denunciadas pela negligência com o caso. “Foram tantas denúncias na Polícia, nos Bombeiros, pelo rapto, os espancamentos. Tudo foi registrado, os BOs. E não foi tomada nenhuma providência. Na época a repercussão foi de apoio à vítima, mas com cuidado para não atingir a corporação [Bombeiros, onde o cabo servia]. Mas a Gercina colocava a boca no trombone sem medo. No princípio ela tinha medo, mas viu que ou falava de vez ou tudo poderia ser pior. Acho que no fundo ela sabia que ia ter um desfecho trágico”, conta.
A partir dessa história, Sulamita provoca a sociedade a pensar em situações que continuam acontecendo até os dias de hoje. No Brasil, 13 mulheres são vítimas de mortes violentas por dia, aponta o Atlas da Violência 2018. Falar em tragédia não é suficiente para explicar a realidade do que acontece às mulheres assassinadas pelo fato de serem mulheres.
O romance reportagem Em nome da Filha é mais do que do uma história sobre um crime. Para Sulamita, é um alerta a toda a sociedade e o resultado da luta de uma mãe que buscou justiça e a preservação da memória de Mônica. “Sempre tem uma desculpa para o algoz e sempre tem um dedo apontado para a vítima, mesmo morta. Mônica foi julgada pelo comportamento dela”, conta Sulamita. “Essa história precisa ser contada porque elas foram pioneiras, Gercina na luta e Mônica porque foi uma menina que resolver encarar a própria vida, se achando dona da própria vida, mas não era dona da própria alma”, reflete.
Até os últimos dias de vida, Gercina esteve engajada em contar a história da filha. A autora não pôde apresentar o trabalho à mãe, que morreu logo depois que o livro ficou pronto. Mas vê na publicação da história o cumprimento do compromisso com Gercina. “Eu tinha uma experiência em lidar com assuntos dessa natureza, e da própria vivência como repórter. Eu cobri os casos de onde surgiu o movimento Quem ama não mata, nos anos 1980, em Belo Horizonte. A partir daí, eu posso dizer que me aproximei do feminismo”, reflete. “No princípio eu iria contar a história de Mônica, mas no processo o livro se transformou e ficou na perspectiva de Gercina. Ela deixou de existir, ela viveu para isso. Minha tristeza é ela não estar aqui para ver”, conta emocionada.
Morta pelas mãos de um bombeiro militar, Mônica foi consumida pelo fogo, que tirou sua vida, e pela omissão de parte significativa da sociedade que silencia diante de casos de violência contra a mulher. Como se passou com Mônica, ainda hoje 66% dos casos de feminicídio acontecem dentro da casa das vítimas, durante a semana, de segunda a sexta-feira. Os dados são de levantamento do Ministério Público de São Paulo realizado em 2018.

Serviço
Lançamento do livro “Em nome da Filha”, de Sulamita Esteliam
Data: 23/03/2019 – sábado
Horário: 20h
Local: Villa Ritinha. Rua da Soledade, 35 – Boa Vista
Apresentação poética: Zé de Guedes
Sucesso sempre, minha amiga. Seu talento é sabido. Voe cada vez mais longe e alto (suas asas não são de cera, pois são fruto de luta e pesquisas).
Vá! Você me representa.
“Desnaturalize o ‘amor’ que mata”.
“Tamo junto”. 🤜🤛
Parabéns pelo maravilhoso trabalho. Pela desenvoltura na entrevista ao Jornal BomDiaPE hoje. Amei te ver!
Ficou muito linda a apresentação e abordagem do assunto feminiscidio e a história de Mônica. A Sra é muito sábia. Deus abençoe seu trabalho e sua saúde e toda sua família. Forte abraço 🤗 bjs
Obrigada, Cleiton. Bom receber um afago deste tamanho. Bem-vindo ao blogue.