
por Sulamita Esteliam
Não são boas as notícias que nos chegam dos sete cantos do Brasil. Na toada macabra, a chacina de nove jovens em Paraisópolis, no fim de semana passado, explode em dor a barbárie oficial.
Uma dor que desnuda a esperança de civilidade nesta terra que já se cantou como das oportunidades, compatriotas que somos de Deus. Abriram a Caixa de Pandora, urge fechá-la, mas a dobradiça emperrou.
A trôpega democracia que alcançamos já é lenda distante, como o mito que corporifica a desgraceira ampla.
Foi um cerco em busca de suspeito de crime, alega a PM de Dória Júnior, que só fica atrás da PM carioca-fluminense em número de execuções. E todos os testemunhos, exceto dos policiais, falam em execução.
Entraram jogando gás e atirando. Pânico, gente tropeçando em gente. Pisoteamento sem rota de fuga. Um cerco a um baile funk, na periferia paulista, com 5 mil pessoas, a maioria absoluta jovens, negros.
E ainda querem excludentes de ilicitude. Licença para matar já têm faz tempo.
Quatro dos nove mortos, dentre eles uma menina, são menores. Há 12 feridos.
Nenhum pedido de desculpas. E se houvesse, seria cretinice, porque a política de segurança pública é caça aos pobres. A ordem é genocídio.
Alguém num dos grupos de que participo, observa que o problema não é o funk, é a localização geográfica. Tem razão.
Na área centro-sul paulistana – e não apenas, vamos combinar -, os finais de semanas espalham festas, barulho, música a todo som, sexo, drogas e que tais. Gente branca, ou com pele clara, em sua maioria. A polícia está sempre presente, no mais das vezes para proteger.
Nada a se estranhar, num governo que manda jogar água gelada em moradores de rua em pleno inverno, como faz o Dória almofadinha.
Do mesmo modo que o governador, juiz aposentado Wilson Witzel, manda metralhar comunidades, mata crianças, estudantes, mesmo em locais onde há alerta no teto sobre a posição de escolas.
O Atlas da Violência não deixa a mentira de pé: o número de gente morta, de morte matada, cresce. Só em 2017 foram 65.602 mil pessoas. Jovens e negrxs são as principais vítimas, 59,1% e 75,5% dos homicídios, respectivamente.
A proporção racista é inegável: mata-se 2,7 negrxs para cada não-negrx assassinado. Cresce a desproporção entre pessoas assassinadas pela polícia e policiais mortos em serviço, digamos assim: em 2017, para 28 civis abatidos por policiais, dois soldados tombaram em combate; quando antes a relação era de 11/2.
Continha rápida feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública: 235% a mais de letalidade da gente comum no período de 2013 a 2017.
Os estados federativos em sintonia com a máxima federal: morte aos pobres, e pretos, e indígenas, aos povos tradicionais, às mulheres, aos gays, trans, às lésbicas e a toda miríade de “diferentes” do que possa cheirar a “gente de bem”.
A diversidade agride. O bom mesmo é ser pato, ganso, boi ou vaca de presépio. Mas nem o gado está a salvo.
O que se faz com os direitos dos trabalhadores, homens e mulheres, com a economia e com as riquezas do país é criminoso. Retrocesso em cima de retrocesso.
E ninguém na rua. A apatia é corrosiva.
Paro por aqui. Tive um dia complicado, cabeça e corpo pedem repouso.
Bem sei que estou devendo postagens. Mas o portátil andou cheio de vontades na semana última, que passei em Brasília. Desconfio que vai ter que voltar ao técnico para revisão. Torço para que o chilique tecnológico seja apenas efeito de Mercúrio retrógrado, passageiro já realinhado.
Para ampliar o mote da abertura, deixo você com Bob Fernandes, que faz um passeio sobre este #TristeBrasil, sem deixar pedra sobre pedra:
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