
por Sulamita Esteliam
Minha intenção era escrever sobre as mulheres e a sobrecarga de exigências, e violências, que recai sobre elas desde sempre, e sobretudo nesses tempos de pandemia. O ministério acabou, mas o plantão para denúncias segue funcionando #Ligue180. A partir dele, siga a orientação sobre onde e como buscar ajuda.
Fiquei na intenção, por enquanto. Outros assuntos cruzaram o meu caminho e mudei o rumo. Toco o bonde para ver aonde vamos chegar.
Certo é que o Brasil avança em ritmo acelerado para chegar à marca de um milhão de infectados pelo novo Coronavírus. Na verdade, já ultrapassou, pois a subnotificação, se caiu, não fica abaixo de 1/7. Por qualquer fonte – Ministério da Saúde, Conass – Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Consórcio de Imprensa -, os mortos já somam 40 mil num total de 802 mil pessoas com Covid-19.
E a abertura do comércio e das atividades de serviço tende a explodir o genocídio estimulado pelo desgoverno central. É a necropolítica a serviço do capitalismo para poucos, a partir da servidão da maioria.

Aqui no Recife, o movimento na retomada é assustador, segundo quem precisa circular por algum motivo. O escalonamento da flexibilização na capital está mantido, e avança a partir da segunda-feira, 15.
No entanto, o o governo estadual pisou no freio em relação à várias cidades no interior: 85 municípios do Agreste – regiões de saúde de Palmares, Goiana, Caruaru e Garanhuns – não vão à terceira etapa do relaxamento. É que neles não se verifica a tendência de queda no número de novos casos; ao contrário, houve aumento na demanda por leitos de UTI.
A ver para que lado o vento sopra também por aqui.
Penso, não obstante a feminista que sou, que importa pouco o gênero quando a vida se apaga. Importam as histórias que foram interrompidas, as dores de quem é parte dessas vidas e fica por aqui, e o que foi feito para evitar que elas se quebrassem.
A pergunta é: vidas importam, de quem, para quem e até onde!?
Li em algum lugar, creio que no Twitter, uma crítica às postagens de política que imperam nas redes sociais, enquanto a peste e a morte reinam absolutas neste país.
Ora, é a política que rege as vidas, queiram ou não queiram boa parte das pessoas. É a política que determina quem vive, como vive ou sobrevive, quem morre ou desaparece, em que tempo.
Heresia, gritariam os religiosos!
Pode ser, mas é assim que funciona neste plano. E você tem que cuidar para que funcione melhor. Quando se omite, e deixa apenas a Deus, e aos governantes, as instituições – em qualquer sistema ou lugar – a tarefa de reger sua vida, você faz o pior tipo de opção política, que é omitir-se.
E blasfema contra a criação. Faça a sua parte, lembra-se? Para isso serve o livre arbítrio.
Quando a pandemia passar, um dia passa, o que restar de nós há de ter trabalho redobrado para seguir vivendo. Sim, porque enquanto focamos na doença, na saúde coletiva, e é preciso que se faça com todo empenho, estão destruindo nossos meios de sobrevivência.
E farinha pouca, meu pirão primeiro.