por Sulamita Esteliam
Dia 25 de setembro é celebrado o Dia Nacional do Rádio. Data escolhida por conta do aniversário de nascimento de Roquete Pinto, considerado o “pai do rádio brasileiro”Mas a primeira transmissão radiofônica no Brasil se deu no 7 de setembro de 1922, centenário do grito da Independência.
Também em setembro, 14 , é dia de todas as Marias brasileiras. Foi nesta data que foi ao ar pelas ondas da Rádio Nacional, da EBC – Empresa Brasileira de Comunicação, Amazônia a dentro e afora, o programa Viva Maria.
A voz que ecoa é da jornalista e radialista brasiliense Mara Régia. Há 39 anos.
O programa foi instrumento dos direitos das mulheres na Constituinte, criou lastro e deixou rastro aonde chegou.
E por conta dele Mara foi uma das 52 mulheres brasileiras indicadas ao Nobel da Paz em 2005.

A despeito disso, o Viva Maria foi tirado do ar, mais de uma vez. Mas resistiu.
Espalhou-se nas praças, barcos e florestas, congressos, convenções e sortilégios.
Ainda hoje está no ar. No formato podcast, mas persiste. Multiplica-se em outros programas, filhote-canguru de diferentes emissoras Amazônia adentro e Brasil afora.
Difusora do Planeta Fêmea, da alma amazônica, como abelha polinizadora.
Pois hoje, a Leitura Literária saúda Mara Régia e o Viva Maria!
Faz-se portadora do nosso salve a todas as radialistas do país; à Rede Mulheres em Comunicação; a todas as vozes do rádio oficial e também do rádio comunitário acolhido na rede da Abraço Brasil.
Selecionei um trecho de um podcast que está publicado, neste 25 de setembro, no portal Catarinas – Jornalismo com perspectiva de gênero.
Homenagem ao Viva Maria, 39 anos nas ondas do feminismo, e que Mara gentilmente me envia.
É o tema desta sexta-feira no A Tal MineiraTV:
Para abrir, tomo emprestado a voz em coral das mulheres do povo amazônico:
“Fala, Mara Regia, que é pela tua voz que a gente anda!”
por Mara Régia – do Viva Maria 39 anos
“O que comemoro neste aniversário?
Diante do cenário político atual, não temos muito a comemorar.
Mas eu celebro, acima de tudo, a resistência das mulheres do Brasil.
Essas mulheres que sabem que viver Marias é mais fecundo do que a eventualidade dos cargos.
Eu celebro essa força que nos alerta, essa vontade de continuar.
Continuar, insistir até o fim dos meus dias por uma cidadania plena, justa, por igualdade.
Então, eu faço meus os versos de TT Catalão, esse poeta tão querido, que fez um poema-protesto pelo fim do Viva Maria nos anos 90:
“Ave-Marias, saudações, cheia de graças,
uma voz perde o microfone, mas não perde a frequência.
Bendita és tu por seres mulher.
Entre todas as mulheres,
será sempre bendita aquela que não cala.
Bendita será bem-vinda no ar
como arma suave, de quem não usa a força,
mas está sempre diante da brutalidade.
Outras interrupções já foram sentidas,
Outros impedimentos já foram decretados.
Mas a vida, a cidade, o Brasil tem uma alma de erva teimosa
que acha um buraco na couraça e brota.
E assim, eu saúdo todas as Marias, todas as mulheres,
na certeza de que teimar e tentar é uma condenação que todas nós temos
a um eterno recomeçar.
Mas o fruto amadurece, eu quero acreditar nisso, sob a falsa imagem da derrota.
Por não termos rotas nem programas – de novo TT Catalão –
nem futuros brilhantes, apenas somos, como Mara,
candangos, brasileiros de um sistema nervoso, que haverá de nos fazer mais fortes.
Esperamos que assim seja, e basta que hoje seja o Dia dos Anjos.
Não choremos o breu, temos brio.
Um beijo da Mara Régia.
Ave-Maria, cheia de graça…”
Ah, sim, TT Catalão é um poeta braziliense, nascido no Rio de Janeiro, presença, voz e versos marcantes na cultura do Distrito Federal. É estrela desde 02 de janeiro deste ano. Que seja de luz.