por Sulamita Esteliam
Duas reportagens em dois veículos diferentes chamam a atenção para um drama que se tornou recorrente no Brasil: o atropelamento de direitos que custa não só qualidade de vida, mas vidas aos milhares, e não apenas as mortes pela pandemia do Coronavírus – 537 mil 498 famílias enlutadas nesta quarta, 14 de julho.
A revista Piauí pega o mote do documentário de Jorge Bodanzky, exibido em evento paralelo ao recente Festival de Cannes. O roteiro traça um paralelo entre a tragédia gerada pela mineração desembestada na Amazônia com o desastre na cidade japonesa de Minimata nos anos 50 do século passado.
Lá, milhares de pessoas foram mortas por contaminação de mercúrio. Aqui, o Ministério da Saúde tem a cara de pau de recomendar a mudança de hábitos alimentares do indígenas para evitar peixes contaminados pelo mercúrio usado na exploração do ouro.
Há de fato recomendação oficial do Ministério da Sáude, segundo a reportagem de Marta Salomon, em documento encaminhado ao Ministério Público de Santarém.
Enquanto os congressistas discutem a possibilidade de legalizar o liberou geral das terras indígenas para a exploração mineral, estabelecido pelo defenestrado ministro do Meio Ambiente, que já foi tarde.
Bodanzky acompanhou pesquisas junto ao povo Munduruku, em 2019: a contaminação dos indígenas já é realidade, sobretudo nas aldeias ao longo da Bacia do Tapajós, que, nas imagens feitas pelo cienasta, “mais parece rios de lama, segundo a reportagem”.
A outra reportagem é do El País Brasil, e trata exatamente da atividade frenética de aprovação de projetos danosos ao povo brasileiro pela Câmara dos Deputados durante a pandemia. E sobretudo nos últimos dois meses, quando as atenções do país estão voltadas para a CPI do Fim do Mundo.
Dentre eles, o referido projeto de abertura total das reservas para a mineração. Mas também a entrega desenfreada do patrimônio público. A Eletrobrás já foi, e de tal forma que até os defensores da desestatização estão incomodados.
É o que os jabutis escondidos no texto ferem de morte a perspectiva de lucro que faziam resplandecer os olhos da ganância, encarecendo a energia também para as empresas.
A bala na agulha do Centrão, capitaneado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), agora, é a privatização dos Correios, contra a qual se rebelam até deputados aliados. Sem falar na dita reforma tributária do Guedes, que consegue desagradar gregos e troianos.
O alvo central, neste desgoverno mais do que nos malfadados anos Temer, é a Constituição de 1988 e o que ela ainda carrega de proteção cidadã: destroçá-la é o objetivo.
A ver se a Suprema Corte está disposta a escrever o epitáfio de sua missão guardiã do arcabouço de direitos definidos pela Carta Magna ou se vai cumprir seu papel.
Outras fontes requeridas:
G1