por Sulamita Esteliam
Lula em Pernambuco é sempre uma festa, quando mais quando traz notícias boas, como o lançamento do PAA – Programa de Aquisição de Alimentos. O popular Geraldão, ginásio esportivo municipal na Zona Sul do Recife, lotou, confirmando as expectativas.
O PAA é projeto essencial para as políticas de combate à fome e de estímulo à agricultura familiar, que é a que coloca comida na mesa da gente brasileira.
O programa define prioridade na compra de alimentos para a merenda escolar, por exemplo. Foi desmantelado nos desgovernados pós-golpe em Dilma Rousseff.
A versão do novo governo Lula busca, também, fortalecer a autonomia das mulheres agricultoras, indígenas e quilombolas.
Recursos outros foram assegurados para ações importantes, dentre elas obras de contenção de encostas no Recife que sofre com desastres a cada inverno mais rigoroso – e é o que se prevê desde já.
O presidente da República, que sempre teve votação massiva em sua terra natal, como de resto em todo o Nordeste do país, entretanto, desta vez teve aguentar o coral de descontentes.
E esta foi a primeira visita oficial à capital do estado, depois de eleito e empossado. Ocasião a calhar para dar visibilidade à reivindicações coletivas.
Foi o que fez pessoal da enfermagem, capitaneados por seus sindicatos, em luta pela implantação o piso da categoria.
Previsto em lei federal, aprovada em agosto do ano passado, teve a obrigatoriedade do pagamento suspensa pelo STF, em canetada do ministro Luís Roberto Barroso; que a condicionou à regulamentação da origem dos recursos.
Sobrou para o governo Lula. Em meio a todas as emergências de início de governo, após a tsunami da (indi)gestão anterior, deve fazê-lo via medida provisória.
E tome vaia, do início ao fim das falações de vices, prefeito e governadora, todos e quaisquer um e uma que usou o microfone antes de Lula.
O presidente reagiu, indignado, cobrando dos manifestantes respeito à sua – ele disse “nossa” – convidada, a governadora Raquel Lyra, que é do PSDB, a primeira mulher a gerir Pernambuco.
Aplausos, nas redes sociais.
Não é a primeira vez que Lula é obrigado a ouvir apupos dirigidos a gestores da terrinha. Durante a campanha eleitoral, setores do próprio PT, divergentes do apoio ao então candidato da aliança, roubou a cena do comício no Centro de Convenções – conforme o link deste blogue, acima.
O presidente vem do movimento sindical e sabe bem como o jogo é jogado. Além do que, é dele próprio a recomendação de que os movimentos sociais e o povo de modo geral sejam os fiscais das ações do governo.
Cá entre nós, esta velha repórter, mesmo afastadas das lides cotidianas da cobertura política, crê que Lula anda extremamente sensível, irritadiço, o que talvez explique as falas um tanto fora do tom.
É compreensível, dado o nível de estresse, para dizer o mínimo, em sua vida nos últimos anos. Além das exigências da reconstrução nacional, que não combinam com as limitações impostas pela situação herdada – políticas, econômicas e financeiras.
Tem agido como escorpiano típico, que é. Proposital? Talvez.
Na entrevista em Itajaí, no Rio, nesta quinta, ele se superou ao chamar de “armação do Moro” a inclusão do ex-juizeco da Lava-jato como alvo do PCC; o que determinou a caça ao PCC pela Polícia Federal.
A chamada “Operação Sequaz” tem a chancela da juíza Gabriela Hardt, que substituiu Moro quando ele se tornou ministro da Justiça do Coisa-ruim, ora substituta na 9ª Vara Criminal de Curitiba.
O algoz do agora presidente da República, entra na mira de bandidos – a troco de quê? -, e é salvo pela juíza-substituta – dele e da vara que detém o processo.
Bem sabemos que Lula é um animal político, que usa jogo de cintura, carisma e verve – ora provocadora, ora conciliadora – para navegar em águas de calmaria ou mares revoltos.
Aliás, aqui mesmo no Recife, ele disse à imprensa que o governo vai resolver “o problema” do piso da enfermagem, assim como todo e qualquer outro problema deste país.
– Meu nome, quando menino, era solução.
Tomara!
Mas nem por isso precisa dar munição para adversários; não, para o inimigo – no singular e no plural.
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*É preciso dizer que acompanhei pelas redes sociais e pela mídia local a visita presidencial ao Recife. Não consegui cumprir os ritos burocráticos do credenciamento em tempo hábil.
O nível de exigências é padrão, dados cuidados institucionais requeridos. Mas é compatível para quem trabalha para a mídia convencional ou alternativos estruturados como empresas. Não para blogue, onde a editora também é pilota e faxineira.
Tentei, mas não rolou. E não me dispus a enfrentar a previsível disputa por espaço.*
Segue o link de duas versões do ocorrido:
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Postagem atualizada em 28.03.2023, às 11h38: correção de links quebrados e inadequações de linguagem.