por Sulamita Esteliam
O que você, mãe ou pai de criança e adolescente, faria se recebesse da escola onde seu rebento estuda um comunicado da natureza do que posto logo abaixo?
É claro que iria parar nas redes sociais, e viralizar. Foi o que aconteceu.
Choveram críticas, de gente de todas as idades, sobretudo dos jovens. E até um ato de repúdio está convocado, via FB/Eventos para a sexta, 31, em frente à escola, de meio dia às 14:00.
“Ato de repúdio a liberdade que as mulheres devem ter quanto a maneira de se vestir. As mulheres podem usar o que quiserem, elas são livres! Vista seu decote, sua saia, venham como quiser buscar seus filhos, sobrinhos, amigos no Colégio Santa Maria.”
Registre-se, não apenas mulheres. Todos têm o direito de se vestir como quiserem, mas uma vez que o comunicado fala em “roupas menos curtas, menos decotadas, menos extravagantes” parece tem destinatário de gênero específico.
A despeito dos numerosos comentários de apoio, a direção do educandário acusou o golpe. Mas agiu rapidamente para esclarecer o óbvio: a postura tem apoio de boa parcela de pais de alunos.
Muito provavelmente, tenha partido desse contingente a observação ou reclamação sobre o incômodo de trajes “inadequados” ao “padrão” conservador do público que consegue pagar mensalidades estratosféricas.
Explica, mas não justifica. Se educar é gestar preconceito e discriminação a partir da aparência, do “trajar”, então o mundo está mesmo perdido.
A sede do Santa Maria está em Boa Viagem, onde se instalou em meados dos anos 50 do século passado, com educação infantil e primário, evoluindo rapidamente até o atual ensino médio.
Oferece atividades esportivas e segmento internacional, com ensino de inglês e mandarin.
É um colégio católico, ainda que seja privado, sem ligação a qualquer ordem religiosa. Mas ninguém menos do que o Arcebispo de Olinda e Recife, celebrou a missa de inauguração em 1956.
Está dentre os mais tradicionais, os mais elitistas colégios do Recife e, obviamente, o mais caro da Zona Sul.
Tem, portanto, inserção no meio dos poderes constituídos, que faz vistas grossas à regras de preservação ambiental, por exemplo, tanto quanto os endinheirados que podem pagar o preço das mensalidades.
Prova disso é que, desde o ano passado, dispõe de unidade na Reserva do Paiva, condomínio Classe A, construído em área de preservação ambiental, como se pode depreender. Com o beneplácito dos poderes constituídos. Fica no início do litoral sul de Pernambuco, a 20 minutos de Boa Viagem.
Cidadania, é assim que se ensina, e se aprende, e se reproduz o modus vivendi e operandi da casa-grande, com perdão da rima pobre.
É preciso contemporizar: sempre há bem-intencionados que se sacrificam para dar o que consideram o melhor em educação para sua prole. Triste ironia.
Tem outra: em matéria de desempenho no Enem, o colégio não passa da 7ª colocação geral, quinta dentre os privados, de acordo com o rol 2015/2016. Uma evolução de quatro casas, desde 2010.
Não obstante, atende aos princípios de educação da elite que coloca lá seus filhos para estudar. E que apoia ou incentiva, restrições lamentáveis, para dizer o mínimo, que extrapolam as liberdades individuais como exposto acima.
Sem embargo, o que esperar de uma instituição de ensino que se jacta do lema: “Aqui se aprende a amar a Deus, à família e à pátria”?
Baseados nos acontecimentos recentes desde Brasil de meu Deus, deduz-se que é assim que se choca o ovo da serpente – do conservadorismo, do machismo patriarcal, do moralismo conveniente, da discriminação social.
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Postagem revista e atualizada às 22:30 horas: inclusão das informações sobre o ato de repúdio e observações pertinentes a respeito.