por Sulamita Esteliam
A peça encerrou-se como tragicomédia: dentre mortos e feridos salvaram-se todos, menos a vergonha nacional.
Por quatro votos a três, cantados em versos e prosa desde o dia anterior ao encerramento, o Tribunal Superior Eleitoral deixou o mordomo no posto que não lhe pertence.
Gilmar Mendes, o presidente tucano do TSE, deu o voto de Minerva, por “responsabilidade”. E o fez se contradizendo ao admitir que havia provas de “graves crimes”, mas, ” não é para cassar mandato”.
Um doce para quem imaginar qual seria a atitude do senhor feudal do Mato Grosso se, no lugar de Temer, o mordomo usurpador, estivesse Dilma, a presidenta legitimamente eleita.
O lado bom, sempre há, da patranha, é que o que o fruto de uma trapaça já nasce podre, e se dissolve ao ser colhido.
Além do que, o Judiciário, mais uma vez, sai muito mal na foto. Não resta dúvidas de a que veio e a quem serve, e esse quem não é o povo que carrega este país no lombo.
Há que se registrar: o relator cometeu ilegalidade ao recorrer a depoentes sobre o que seriam evidências que só vieram à tona depois da ação em trâmite, e que não foram citadas pelo litigante.
A essa altura do campeonato, não se permite dúvidas, nem mentes (sem intenção de trocadilho) hipnotizadas. Até as crateras deixadas pelas mineradoras na Serra do Curral, que adorna a minha Macondo, sabem que não foi por pudor ou moral que o derrotado na eleição presidencial de 2014 entrou com a ação para caçar a chapa vencedora.
Tem-se, agora, por artes e manhas de um empresário-corruptor dedo-duro exibicionista, até um áudio em que o autor da demanda confessa que foi só “para encher o saco deles” – no caso Dilma Rousseff e o PT.
Pois é do gesto próprio dos inconsequentes, em consonância com a compulsão de traíra do usurpador, que resultou a lambança em curso. Dá até título de filme: Dois golpistas em jornada suja.
De qualquer forma, agora, o jogo está embolado no meio de campo, e há três bolas em jogo, duas delas com o STF:
1) Julgar o recurso que o Ministério Público tem obrigação de fazer ao STF para que decida sobre o que o TSE se livrou de fazer. E aí é curioso, porque a Corte não poderá se eximir da responsabilidade, ela que tem preferido a porta do lado, ou o país não teria chegado ao precipício.
2) Já que de política se trata, é a chance de colocar em pauta o mandato de segurança pela anulação da fraude do impeachment de Dilma Rousseff, e assim resgatar de uma só tacada, a soberania popular e a credibilidade e a integridade do Supremo.
O que será que será? Usemos o benefício da dúvida. O resultado nos sinaliza se há salvação fora do espúrio como meio de vida ou o quão profundamente nos atolamos no pântano.
A terceira via, ora veja só, é o Congresso autorizar ao STF o processo criminal por associação criminosa, dentre outras cozitas más, contra o mordomo usurpador.
Registre-se, que, aliás, devolveu nesta sexta à Polícia Federal a prova de sua minoridade humana: um questionário sem respostas, depois de pedir adiamento de dois dias, concedido pelo ministro Edson Fachin, relator-herdeiro da Lava Jato e seus tentáculos desdobráveis.
Cara dura: esperou o resultado do TSE para formalizar a recusa.
E o povo com isso?
A rua é o lugar que lhe cabe. A rua é a frente de batalha. Sua voz e seu voto são as armas contra os barões da desfaçatez.
Mas não basta gritar por diretas, já! e por nenhum direito a menos. Tem que sacudir quem pode mudar o rumo da partida. E esse quem é o STF.
Tem que exigir que o STF anule a farsa do golpe.
O restabelecimento da normalidade democrática passa pelo volta, Dilma! Ela, uma mulher honesta, que foi derrubada por uma quadrilha, sem burla constitucional a sustentar o processo de impeachment.
É preciso chama-la de volta para fazer a transição, que passa pela reforma política via Constituinte e, aí sim, eleições gerais.
Não se iluda. Está tudo armado para a sucessão indireta. E o espetáculo do TSE é apenas um entreato dessa ópera bufa reencenada através dos tempos nesse Brasil de meu Deus.
Não, não surtei, ainda. Apenas acho que a gente não pode contentar com remendos.
É essencial lutar pelo necessário indispensável.