por Sulamita Esteliam
Curiosa a frase do governador Paulo Câmara (PSB), destacada pelo jornal Diário de Pernambuco, a propósito da conversa que teve com a presidenta do PT, senadora Gleisi Hoffmann na manhã desta quinta-feira, no Recife:
“O pernambucano tem uma gratidão, uma solidariedade ao presidente Lula por tudo que ele fez pelo estado.”
Deveria. E não só a Lula, mas à presidenta Dilma, também.
Contudo, Sua Excelência não se lembrou disso quando exonerou parte do secretariado para votar pelo impeachment fraudulento da presidenta, em 2015.
Três anos se passaram, desde então, e apesar de vivermos em estado de golpe permanente, como decorrência, estamos de volta a um ano eleitoral. A conveniência política faz com que se passe uma borracha no passado.
É assim que as coisas funcionam na política; como nuvens passageiras, já dizia uma velha raposa felpuda mineira.
Difícil é explicar essa lógica pragmática para o eleitorado mais atento ou pouco afeito às lides do jogo.
Gleisi Hoffmann passou menos de 24 horas no Recife, para onde veio acompanhada do vice-presidente nacional, Márcio Macedo, do PT de Sergipe, e do deputado federal paulista Paulo Teixeira. Reuniram-se com o Diretório Estadual, na tarde da quarta, e com Paulo Câmara, que é vice-presidente nacional do PSB, na manhã desta quinta.
Saiu daqui com um esboço de acordo na algibeira; ao que tudo indica, intra e extra partidário. Talvez seja mais preciso dizer que obteve o compromisso de boa vontade interna, e o reforço de uma possibilidade: se conseguir emplacar o apoio nacional do PSB a Lula, como acredita ser possível Câmara, o PT colocará em debate a solução estadual.
“É um pleito legítimo, importante, e tem respaldo de peso na base do partido (a pré-candidatura de Marília Arraes, vereadora do Recife, ao governo do Estado). Mas nosso pessoal entende a estratégia nacional, e sabe que o que muda a vida de um povo, efetivamente, é um projeto nacional de mudança das base na condução política do país.”
Ou seja, a possibilidade de o PT abrir mão da candidatura de Marília Arraes, vereadora do Recife, ao governo do estado, está colocada e reiterada.
A despeito de o próprio Lula ter dito a dois de seus visitantes na prisão – João Pedro Stédile, do MST e Ruy Falcão, ex-presidente do PT – que ela é sua candidata. Deu-se na semana que passou.
A fala da presidenta nacional do PT é coerente com a prioridade estabelecida pelo partido, que é a defesa da liberdade de Lula e de sua candidatura à Presidência da República.
Política é como nuvem, dizia a tal raposa das Gerais: “você olha, está de um jeito, pisca e já mudou” a conformação.
Todavia, o jogo é jogado, e as cartas estão na mesa.
ENTREVISTA/Múcio Magalhães

O A Tal Mineira conversou sobre este e outros assuntos relativos ao PT nacionsl e pernambucano com Múcio Magalhães, secretário de Formação Política do PT de Pernambuco e líder da Articulação de Esquerda, corrente que não detém a maoioria no partido, nestas plagas.
Ex-secretário de Coordenação Política nas duas primeiras gestões petistas no Recife (2001-2008), elegeu-se vereador e presidiu a Câmara Municipal por dois anos (2009/10). Não logrou acento no Legislativo estadual no pleito de 2014.
A entrevista foi feita em duas etapas, via zap-zap: uma parte na manhã da quarta-feira e a conclusão esta noite. Confira
A Tal Mineira – Como você avalia a hipótese de Lula continuar preso, qual a saída?
Múcio Magalhães – Avalio que o caminho da liberdade de Lula está sendo construído nas mobilizações que agora se intensificam. O golpe está determinado a manter Lula preso e inelegível. Aposto na combinação da pressão popular com ações jurídicas para derrotar o golpe.
ATM – Você crê na possibilidade de reversão, então. Com o PT de Pernambuco está se articulando para contribuir nesse processo?
MM – Participando das mobilizações e montando uma campanha eleitoral fortemente apoiada pela base e pelos movimentos sociais. O que acontecerá com Marília candidata a governadora.
ATM – A propósito, como foi recebido o recado de Lula de que Marília é a candidata dele? Já existe consenso no PT pernambucano sobre a candidatura dela? E como é que fica a história da aliança com o PSB?
MM – Não tem consenso porque os que defendem aliança com Paulo Câmara insistem. A aliança nacional com o PSB está sendo perseguida pela maioria da Executiva Nacional. Querem um aaliança formal, onde tempo de TV e tudo mais sejam passados para a campanha do Lula ou, no pior cenário, para quem o PT indicar.
Na proposta da Executiva Nacional do PT, ou a aliança é nacional ou não tem aliança por estados.
ATM – Pois é. Eu vi a fala da Gleisi em BH. Mas a declaração de Lula não muda essa perspectiva. Ou o que up ele quis passar para o PT pernambucano, que vive se estranhando…?
MM – A fala dele anima a base que defende um novo protagonismo para o PT. Os demais mantêm sua posição.
ATM – O que muita gente sem vivência partidária se pergunta é se o PT tende a repetir os erros do passado recente, que desmantelou o partido em Pernambuco, dentre outros estados onde tinha grande inserção popular. Há percepção e sensibilidade sobre esse questionamento?
MM – Claro que sim.
ATM – Se há, o que está sendo feito para o partido se reconectar com suas bases populares aqui, para além do movimento sindical, que também parece engessado:
MM – Nestes quatro últimos anos o PT-PE se unificou para reconstruir o partido. Está rearticulado com os movimentos sociais, é membro ativo da Frente Brasil Popular, e desenvolveu fóruns de debate e articulação internos mais amplos, como plenárias regionais do partido.
ATM – A Gleisi hoje (quinta) fechou o apoio do PSB a Lula com Paulo Câmara, pode me dizer as bases? Li num blogue de Brasília que o apoio não foi condicionado a palanque estadual, procede?
MM – Só para clarear as ideias: Gleisi não vai tratar da aliança com o PSB em Pernambuco. Ela veio discutir a aliança nacional do PT com o PSB. A Aliança aqui só vai acontecer se tiver aliança nacional. Considero que essa possibilidade está cada vez mais longe, por que a maioria do PSB quer Ciro.
ATM – Sim, mas o Câmara coloca Pernambuco como definidor, por ser a base mais forte do partido. Pelo menos é o que está na mídia local – DP e Folha PE…
MM – Não. Se conseguir maioria nacional no PSB para apoiar formalmente Lula, o PSB vai querer apoio em alguns estados e, destes, o mais importante é Pernambuco.
ATM – Certo, é a lógica. Não existe almoço grátis. Aí, a Marília dança. Foi essa a conversa no diretório, ontem?
MM – Não. Ninguém fala nestes termos. Ela sair da disputa é uma discussão que será estabelecida caso se forme uma maioria nacional no PSB a favor de coligar com o PT.
ATM – A convenção estadual é quando?
MM – Ainda não foi marcada.
ATM – Você é candidato a federal?
MM – Não. Ser candidato não faz parte dos meus planos.
ATM – Nossa conversa é on, né?
MM – Sim.
ATM – Obrigada pela disponibilidade e pela entrevista.
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