por Sulamita Esteliam
Com agilidade fora dos padrões, exceto pelo voto de Edson Fachin, que levou mais de hora, o pleno do STF lavou o telhado e tapou as goteiras da inconveniência política.
O placar de 8×3 indica que as infiltrações foram absorvidas e saneadas: Lula segue livre e elegível, para desespero dos golpistas de plantão.
Confesso que fiquei surpresa com o voto de Marco Aurélio Mello, contrário à anulação dos processos que condenaram Lula na 13ª Vara Federal de Curitiba.
Lá um dia que não vai muito longe, reinou absoluto o ex-juiz-inquisidor, Sérgio Moro, recentemente julgado parcial pela 2ª turma da Corte Suprema.
Eis a questão que volta a ser avaliada em recurso interposto pela própria defesa do ex-presidente Lula pela não revisão do Habeas Corpus pela suspeição de Moro concedido pela 2ª Turma.
Fachin, em seu voto pela incompetência da Vara de Curitiba, pretendia que a sentença anulasse o julgamento antes mesmo de ele acontecer. Ocorre que está feito, e não há histórico no STF de o plenário funcionar como instância recursal de decisões das turmas.
O julgamento acontece na quinta-feira pós feriado do 21 de abril.
Leia também: De togada em togada, Supremo institui o VAR coletivo
De qualquer forma, embora previsível o resultado do julgamento desta quinta, tendo a dizer que, não fosse mais um recorde de mortos pelo Covid-19, teríamos o que celebrar esta noite, Mas, não com 3.560 óbitos em 24 horas.
Chegamos ao pico, segundo os cientistas da Fiocruz. Uma “estabilidade alarmante, que, mantida, nos remete a mais 270 mil mortos até o meio do ano”.
Não obstante, justiça para Lula é esperança que volta a luzir na escuridão em que nos desfazemos. Fez-me lembrar um outro dia, em 2018, quando milhares marcharam sobre Brasília para acompanhar o registro da candidatura triplex – Lula, Haddad e Manuela – no TSE.
Era 15 de agosto, e Euzinha estava lá e registrei em palavras e fotos aqui neste bloggue:
O dia do povo do Brasil contra o golpe da casa-grande
No trecho final da reportagem, me permiti escrever:
Foi um dia glorioso, cravado com a energia coletiva em nossos corações.
Não, nossa gente não merece o açoite da indignidade no lombo, o frio das trevas, o asco do pântano, a espada do arbítrio sobre suas cabeças.
Se estamos a caminho do fim da estrada longa, tortuosa e acidentada, chegamos até aqui. A perseverança e a altivez dos trabalhadores sem terra e sem teto mostra a trilha e as armas.
E a energia contagiante da juventude álacre do Levante e do movimento feminista é o estimulante que impulsiona.
Tudo isso junto e misturado nos indica que, sim, temos sucessores e sucessoras na tarefa indispensável e revigorante da resistência.
Olho para minhas companheiras (as também jornalistas Elma Heloísa e Eneida da Costa) e vejo que trazem, como eu, o coração em disparada, quase a escapar pela boca.
Ainda agora, enquanto escrevo, posso ouvir a batucada do sangue em minhas artérias, e os olhos teimam em nublar-se.
Ando comovida como o diabo. Mas também se luta com coração.
Nem tudo é desmantelo, e tristeza, e abuso, e barbárie, e acinte nesta Terra Brazilis. O inferno não perseverá.
Sim, nós temos a força da esperança, a energia da criatividade, a firmeza da ideia e a certeza de estarmos do lado certo da História.
Eis a luz a nos guiar para o amanhã, que há de ser outro dia. Ainda que não estejamos mais aqui para desfrutá-lo.

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Fontes Requeridas:
Portal STF
STF confirma anulação das condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato
Rede Brasil Atual
Em estabilidade “alarmante”, Brasil registra 3.560 vítimas de Covid em 24 horas
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Em tempo: compartilho a entrevista que Lula concedeu na manhã de hoje à Rádio O Povo CBN, de Fortaleza-CE. No comando do microfone, o jornalista Jocélio Leal, de quem já fui colega em minha breve passagem pelo jornal do mesmo nome, onde editei Economia nos idos de 1996. Ele é prata da casa, já estava lá quando cheguei.