por Sulamita Esteliam
Tanto quanto muitos avaliam, não acho saudável que os destinos de um País e a esperança de uma Nação e de seu povo se resumam em uma única pessoa. O messianismo não tem levado a humanidade ao oásis ou ao eldorado.
No entanto, não fomos nós, da esquerda, muito menos ele, Luiz Inácio Lula da Silva, quem nos colocou diante desta situação.
Ao manobrar narrativas e sentenças para deter Lula, como desfecho do golpe que pretende extirpar o PT e por decorrência toda a esquerda, a direita transformou o criador e líder do partido em mais do que um mito, um mártir.
Se o matarem, como tentaram, e como muitos gostariam, vira santo. A jogada, que parecia de mestre, não pensou em uma saída que inclua a expressão da vontade popular. O que oferecem está longe, muito longe de ser palatável.
Além do que, o golpe de estado pela via parlamentar, jurídica e midiática hoje é enxergado pela metade da população. Um pouco menos do que aqueles que escolheram reeleger a presidenta.
E Dilma Vana Rousseff tem sido exemplar em sua conduta de denúncia do golpe, de altruismo e solidariedade, na defesa do amigo Lula da Silva e seu direito de ser candidato.
Só mesmo uma mulher para relevar o tratamento que recebeu de parcela da população enredada pela mídia, dos poderes constituídos e até mesmo do próprio partido.
Só mesmo uma mulher para se entregar de corpo e alma à defesa da causa, com desabrida lealdade, que é o projeto de um Brasil grande, livre, soberano e mais igualitário para seu povo.
Esse reconhecimento popular de que foi golpe a deposição de Dilma, e de que Lula é perseguido para que não concorra, e ganhe, à eleições presidenciais é derrota colossal das forças golpistas.
Indepentemente do que virá como consequência.
As oligarquias brasileiras sabem o que fizeram no verão, outono e inverno passados. E seguem fazendo, na vã tentativa de deter a primavera.
Pediram, agora aguentem.
“Completam-se 30 dias que estou aqui aguardando que o Moro e o TRF4 digam qual crime eu cometi. Não sei se os acusadores dormem com a consciência tranquila que eu durmo. A minha tranquilidade é porque eu tenho vocês.”
Lula para a militância, dos sete cantos do País, que tem-se revezado no Acampamento Marisa Letícia e na Vigília Lula Livre, em Curitiba em apoio a seu líder.
Religiosamente, todos os dias, a resistência envia boas energias para o ex-presidente encarcerado, através do “Bom-dia, Lula” e do “Boa-noite, Lula”!
É a injeção diária de energia, que ele agradece, sempre que pode, através de mensagens trazidas pelos advogados, pela família e, agora, pelos visitantes.
O Brasil teria sido bem mais feliz se mantivesse a trajetória da democracia conquistada a duras penas, do crescimento econômico e desenvolvimento social iniciado com Lula. E continuado por Dilma Rousseff, a presidenta legítima, que logram apear do governo num golpe rasteiro e indigno.
Mesmo que ela tenha, pontualmente, pisado na bola no início do segundo tempo, com a malfadada história do ajuste Levyano, e a própria Dilma já fez a mea culpa.
Havia tempo para corrigir rumos, e não estaríamos atolados no abismo a que chegamos.
Nem se trata de repisar a moralidade que, sequer, é de fachada. É piada de mau gosto brandir o combate à corrupção de mão única para justificar o arbítrio e o desmantelo promovido pela quadrilha que tomou de assalto o poder.
Trata-se do desmonte, irresponsável e cruel, de um país que mal roçou as margens da igualdade, mas que tinha na soberania e no resgate da autoestima de sua gente um caminho nunca dantes trilhado.
O desgoverno golpista é pilhagem descarada.
Lula é prisioneiro político há 30 dias. E mesmo na cadeia sua voz ecoa Brasil e mundo afora.
O vídeo abaixo, capturado no Facebook/Mariano Júlio, registra manifestação em Berlim:
Através de milhares de acampados e vigilantes em Curitiba, o país que se importa resiste. Milhares de brasileiros, milhares de latino-americanos, europeus, africanos, e até estadunidenses, gritam pela liberdade de Lula.
E as pesquisas, que não reproduzo como confiáveis, embora distantes do momento, refletem o perigo da contramão em que se meteram seus algozes.
“Sou candidatíssimo”, reafirma Lula a Leonardo Boff, o teólogo amigo do ex-presidente que, finalmente, conseguiu estar com ele no cárcere, e trouxe o recado:
“Deixo de ser candidato quando o Moro apresentar uma prova de que o triplex é meu.”
É a outra boa notícia do dia. Assista ao vídeo – e clique aqui para ver a entrevista do frei após a visita:
No sítio Lula.com.br, um relato emocionante e emocionado de como têm se transcorridos os dias do ex-presidente, cujo isolamento vai sendo relaxado, aos poucos, e finalmente; e tão somente depois que as denúncias do arbítrio correram o mundo.
E o PT.org traz um ensaio fotográfico com personagens acampados no entorno da sede da Polícia Federal na capital do Paraná. Retratos da Vigília Lula Livre, símbolos dos milhares de Lulas que têm passado por lá nesses 30 dias.
Boff é o terceiro visitante amigo a estar com Lula nesses 30 dias. Antes, apenas a frequência dos advogados e dos familiares, estes uma vez por semana. Afora eles, também representantes da Comissão de Direitos Humanos do Senado fizeram uma inspeção das condições do cárcere.
“Lula ficou quatro dias sem ver a luz do sol. Em uma cela limitada à luz artificial, com vista apenas para a parte interna do prédio que o detém, o ex-presidente assistiria as horas passarem sem saber se do lado de fora fazia dia ou noite, não fossem os pontuais coros de “bom-dia”, “boa-tarde” e “boa-noite”, entoados por milhares de apoiadores dia após dia, a 900 metros das paredes que o confinavam.
As condições para o banho de sol de Lula só foram regularizadas na Polícia Federal uma semana após sua prisão, quando os termômetros marcavam 15ºC em Curitiba. Naquela data, uma chuva incomoda caía sem trégua.
As barracas do acampamento Lula Livre, nos arredores da Polícia Federal, eram cobertas por lonas pretas que cortavam o vento gelado da capital paranaense e abrigavam acampados de todo o país, a maioria deles estranha ao frio curitibano.
Seria a segunda oportunidade de Lula, recluso há sete dias, ver “o dia lá fora”. E o ex-presidente da República não hesitou. Seguiu para o pátio onde caminharia em círculos sob a chuva por 1h10 minutos. “