por Sulamita Esteliam
A notícia mais importante do dia é de que a rede Whatsapp tomou a iniciativa de banir da rede as agências responsáveis pelo disparo de notícias falsas, mensagens anti-PT a serviço e benefício da candidatura do inominável.
Com a atitude, dispensou a prontidão às avessas do TSE. E livrou-se de perder, por ora, vasta clientela por conta de possíveis investigações em sua larga carteira, que certamente não se resume à meia dúzia de agência do gênero.
O zap-zap, como se sabe, pertence ao empresário norte-americano Mark Elliot Zuckerberg.
Barrados na farra de notícias falsas enviadas aos milhões através do aplicativo, também, as contas ligadas a tais agências; dentre elas, a do filho do candidato do PSL, Flávio, senador eleito pelo Rio de Janeiro. Claro que ele chiou, naquele tom próprio da família.
Ele e as agências Quickmobile, Yacows, Croc services e SMS Market foram notificados extrajudicialmente.
Mas a Procuradoria-Geral da República já requereu da Polícia Federal a abertura de inquérito para investigá-las e a outras envolvidas na disseminação de notícias falsas.
Ah, sim, a Revista Forum descobriu que uma das empresas denunciadas na reportagem da Folha, a AM4, tem como sócio Alexandre Martins, candidato a deputado federal pelo PSL-RJ. Jornalismo investigativo.
No reino encantado da Justiça Eleitoral, enquanto isso, o corregedor-geral, ministro Jorge Mussi, instaurou ação de investigação judicial contra você sabe quem, a pedido da coligação Povo Feliz, que reúne PT, PCdoB e Pros.
Mas negou liminares que visavam contenção prévia de danos, como apreensão de documentos nas agências contratadas por empresas, quebra de sigilo bancário de seus dirigentes e também do empresário citado na reportagem da Folha.
Significa, na prática, deixar que se dissolvam provas sobre o crime e seus envolvidos. Mussi mandou notificar o coiso e abrir prazo de cinco dias para que ele se manifeste.
Omissão e deboche em cumplicidade com o golpe eleitoral. Democracia à brasileira.
A coligação pede a impugnação da candidatura do PSL e a inelegibilidade do inominável por abuso de poder econômico e uso indevido de meios de comunicação digital – detalhes aqui.
Até a coletiva de imprensa da presidenta Rosa Weber, programada para a tarde desta sexta-feira, supostamente para tratar do escândalo – sem dúvida o maior que minha vivência eleitoral já assistiu – foi adiada.
Pressa para quê, não é verdade? – Euzinha comentei no Twitter, no meio da tarde; e o Fernando Brito faz observações parecida, em postagem no Tijolaço.
Tudo, afinal, pode resolver-se num domingo, a uma semana do segundo turno das eleições mais tumultuada no Brasil deste e de outros milênios passados.
Domingo à tarde, após o almoço, é para quando foi remarcada a entrevista.
Sob a desculpa de agenda dos demais personagens: a procuradora-Geral da República, Raquel Dodge; o ministro da Segurança Pública, Raul Jugmann; o ministro-chefe da Segurança Institucional do desgoverno usurpador golpista, general Sérgio Westphalen Etchegoyen; a advogada-geral da União, Grace Mendonça; e o diretor-geral da Polícia Federal, delegado Rogério Galloro.
Na pauta, “as medidas institucionais adotadas para responder aos questionamentos levantados no primeiro turno das Eleições 2018”.
Ao que parece, a corte eleitoral ainda se move à base de coches, e precisa de escolta para explicar a inexplicável lentidão.
Se tivesse tomado as providências necessárias aos novos tempos, teria se conectado com o projeto Eleições Sem Fake. Trata-se de pesquisa trabalhada há tempos pelo Departamento de Ciências da Computação da UFMG, em parceria com outras universidades nacionais e internacionais.
O grupo desenvolveu uma série de sistemas que visam trazer transparência para o espaço midiático. Ao tempo em que amenizar “os problemas criados pelas mudanças no ecossistema de notícias”, que favorecem a desinformação e disseminação de notícias falsas.
É uma atividade pública da qual o TSE tinha conhecimento e passou ao largo ao tratar da segurança eleitoral. Apesar de alertas como dos jornalistas Eduardo Sakamoto e Bob Fernandes, por exemplo. Antes, e agora.
Só agora, depois do estrago feito, o tribunal anuncia a intenção de levar adiante uma possível parceria com os pesquisadores da universidade mineira.
Pero, é como se diz, antes tarde…
Outro feito digno de nota é que, como decorrência da notícia do dia, o assunto fraude eleitoral ganhou escalada e cinco minutos de reportagem no Jornal Nacional. Não com estes termos, obviamente.
Na quinta-feira, 18, enquanto o escândalo #LavaZap pipocava nas redes sociais, levando para o trend topic do Twitter a hastag #BolsonaroCaixa2, o principal noticiário televisivo fingiu-se de morto. A notícia bomba ficou restrita à fala do próprio alvo, Fernando Haddad, em evento público.
O silêncio escandaloso causou mal-estar entre os profissionais de Jornalismo da emissora, aqueles que se importam – e eles existem, pode acreditar. Ao ponto de o colega blogueiro, Renato Rovai, da Revista Forum, dedicar postagem a respeito.
Também o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo denuncia coação de jornalistas da TV Record para favorecer o candidato do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, e prejudicar Fernando Haddad, do PT.
A entidade abriu um canal para denúncias de agressões e cerceamento da atividade profissional durante o período eleitoral. E emitiu nota de repúdio aos ataques que a jornalista Patrícia Campos Mello, autora da reportagem que abriu a tampa do esgoto da campanha do coiso, vem sofrendo de apoiadores do candidato.
Em Carta Capital, o blogue do Intervozes discorre com propriedade sobre a postura vergonhosa e antijornalística dos principais veículos de comunicação do país, sobre o que está em jogo nestas eleições: a democracia, a pouca de que ainda dispomos.
O artigo é assinado por pelos jornalistas Marcos Urupá, que também é advogado e doutorando da Faculdade de Comunicação da UnB; e Helena Martins, doutora em Comunicação pela UnB e professora da Universidade Federal do Ceará. Ambos integram a coordenação do Intervozes. Clique para ler a íntegra.
Bom, fico por aqui, por que hoje é sexta, e sábado é dia de ir para as ruas clamar por eleições limpas e democráticas. Mas antes, obrigada ao conterrâneo, Genin, que traduz o coiso à perfeição, pela generosidade do compartilhamento.
Avante, para frente e para o alto. Merecemos o Brasil feliz de novo, com #HaddadManu13.