Três autoras e mais duas obras pernambucanas na final do Jabuti 2020

por Sulamita Esteliam

Vou encerrar a semana de trabalho com boa notícia, e literária. Três mulheres, duas poetas ou poetizas e uma jornalista, um fotógrafo e alguns ilustradores pernambucanos estão entre os finalistas do Jabuti 2020, o mais importante prêmio relacionado a livro e literatura no Brasil.

O prêmio é realizado pela Câmara Brasileira do Livro, e está em sua 62ª edição, desde 1958 – o ano glorioso de um Brasil que sempre sonhou e que merece ser feliz.

Chegar à final de um Jabuti já é uma conquista imensurável. Independentemente do resultado, a indicação já soa como prêmio. E ano passado nem me lembrei de inscrever meu último livro , o Em Nome da Filha!

Sou muito desligada para essas coisas. Fazer o quê. Teria chances? Nunca vou saber.

Tão importante quanto estar entre os indicados, é que duas das mulheres recifenses da lista de finalistas, são negras, e engajadas no combate ao racismo, preconceito e à discriminação.

São elas: a poeta, slammer e mestra em História pela UFPE, Bell Puã, vencedora do Slam BR 2017, agora com o livro de poemas Lutar é Crime, Letramento 2019; e a jornalista Jaqueline Fraga, da equipe da Folha de Pernambuco, com o livro Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho, Independente 2019.

A outra mulher é Cida Pedrosa, poeta, advogada e feminista, ativista das causas sociais e do movimento de escritores independentes do Recife.

Ela concorre com Solo para Vilarejo, Cepe Editora 2019. Livro de um poema só, épico, viagem de retorno às origens em Bodocó, no Sertão do Araripe. Ela e Bell disputam na categoria Poesia.

Greg, que é colega de Jaqueline na Folha PE, é um dos participantes da coletânia O Obscuro Fichário dos Artistas Mundanos, editada pela Cepe, com roteiro de Clarice Hoffman e Abel Alencar, finalista na categoria Quadrinhos. Os demais ilustradores são: Maurício Castro, Paulo Amparo e Clara Moreira.

O fotógrafo Fred Jordão, também jornalista, concorre na categoria Artes. Já reconhecido nacional e internacionalmente, seu livro Recife – Fotografias é uma ode à cidade que o o revelou – ele é de Bonito-PE. Reúne fotos 1986 a 2018.

Clique para conhecer todos os finalistas do Jabuti 2020 nas diferentes categorias

Agora, vamos de poesia, porque hoje é sexta.

Não disponho das obras indicadas. Escolho poemas de livros anteriores das duas poetas ou poetizas: dois de Cida Pedrosa e dois de Bell Puã, de estilos diferentes,  para o Leitura Literária desta sexta no canal A Tal Mineira TV no Youtube.  Alternadamente. Posto já, já o vídeo.

patricia

por Cida Pedrosa

é especialista em filhos
deveria ser contratada
para reclames de televisão
e os jornais poderiam colher depoimentos
sobre como ensinar uma empregada
a engomar 10 fraldas de uma única vez

teve 3 filhos

jéssica marina e victor júnior

sabe tudo sobre febre e papinhas cocozinhos risinhos                                bonequinhas carrinhos palhacinhos sapatinhos joguinhos
roupinhas festinhas de aniversário letrinhas numerozinhos
velocípedes curso de férias esporte queda de bicicletas
matemática português história geografia cidadania
aula de reforço amigos indesejáveis lan house
passeios aos shopping conga de telefone alta
comprimidos de ecstasy

patrícia é especialista em filhos
mas não sabe o que fazer com o piercing que jéssica
pôs nos grandes lábios
o amor de marina por felipa
e a decisão de victor júnior não seguir a carreira do pai
junto à empresa victorvictoria

(do livro As Filhas de Lilith, ilustrado por Tereza Costa Rego, Calibán, 2009 c/apoio do Funcultura PE)

Neolatina

por Bell Puã

molhados os sonhos no asfalto
Recife nunca chove no verão
mas hoje vi gotas arrancarem
cada
pedaço
do
meu
chão

espalharem os poemas de amor
que nunca soube escrever
fingia que os achava estúpidos
sem querer assumir
minha incompetência
pensava em desistir
pedi clemência
às paixões sobreviventes

virava ao avesso
tirava do eixo
versos salgados
os sonhos no asfalto
molhados
meus poemas de amor
engasgados

(do livro “Dei Perdido na Razão”, Castanha Mecânica 2018, via revistaphilos.com)

tereza

por Cida Pedrosa

mãos enormes

as de Geraldo

 

tào grandes que náo cabem

no corpo magro de tereza

 

quando se casaram

tinham planos de comprar uma casa

de varanda

e passar uma semana em bariloche

 

neste tempo

os peitos de tereza

cabiam inteiros nas mãos de geraldo

 

mãos enormes

as de geraldo

 

tão grandes que se espremem nas algemas

e não podem mais acenar para tereza

que nesta hora é conduzida

no carro do IML

para exame de corpo de delito

sob suspeita de estrangulamento

(do livro As Filhas de Lilith, ilustrado por Tereza Costa Rego, Calibán, 2009 c/apoio do Funcultura PE)

Fecho com um trecho do poema  que Bell Puã recitou no Manos e Minas Slam, depois que levou o Slam Brasil 2017, e ganhou o direito de ir a Paris representar a terrinha na batalha internacional de poesia falada. 

Veja e ouça a íntegra na performance da autora no vídeo legendado que encerra a postagem.

Mas é tudo a mesma merda esse tal de Nordestino

por Bell Puã

(…)
É que pra vocês nós é caricatura

Não importa de onde eu venha,
Me chamam ‘paraíba’
me respeita, boy!
Sou da terra de Capiba,
Mestre Vitalino,
Paulo Freire,
Manoel Bandeira,
brega,
frevo,
coco de roda,
maracatu,
cultura popular pulsante,
Lia de Itamaracá,
Luiz Gonzaga lá do Exu,
Pernambuco, só dá tu!

 

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