por Sulamita Esteliam
O desgoverno deu com os burros n’água, mais uma vez, no que diz respeito à saúde coletiva. Leio que a consulta pública, via internet, sobre vacinação de crianças contra Covid-19, saiu pela culatra da estupidez galopante.
Está na Folha de São Paulo, que acessei a partir do Tijolaço. A “consulta armada”, como bem define o colega Fernando Brito, deu-se, certamente, na expectativa de que a tropa de choque do Coisa Ruim se manifestaria em peso pela exigência da prescrição médica para imunizar crianças acima de 5 anos.
Só que, das cerca de 100 mil pessoas que responderam à convocação ministerial a maioria se disse contrária à exigência despropositada. O des-ministro da Saúde inventou esse absurdo para não cair ainda mais no ridículo da negação da vacina para crianças.
O despropósito não apenas mancha sua reputação médica, se é que o profissional que se respeita pode se dar à chalaça de prestar serviço a um genocida. Constitui crime contra o ECA – o Estatuto da Criança e do Adolescente, que, é bom lembrar, continua em vigor.
O argumento estapafúrdio do ser que desgoverna o Brasil é de que “nem morreram tantas crianças de Covid, assim…”
Até audiência pública se fez para discutir o assunto, nesta terça-feira, 4, oportunidade em que se divulgou a informação.
A secretária Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde, Rosane Leite de Melo, começa pelo que lhe seria favorável: a maioria é contrária à vacinação compulsória e favorável à prioridade às crianças com comorbidades; mas tbm é contra à exigência de prescrição.
Ora, pela lei que protege crianças e adolescentes, mãe e/ou pai e/ou responsável que não vacina suas crianças, é negligente com a saúde de um ser vulnerável, sob sua tutela. Significa que pode ter a atitude criminalizada.
Assim, é obrigação do Estado proteger sua população vulnerável, mesmo contra a vontade de pai e mãe. Está na Constituição e no ECA.
Há mais: limitar a vacina à prescrição é o mesmo que tirar o acesso da criança pobre, moradora das periferias e dos grotões, que não tem serviço médico ao seu alcance.
Portanto, fere o dever o Estado transferir a obrigação de proteger a coletividade à responsabilidade individual de profissional de medicina, ou ao bel convencimento de quem as trouxe ao mundo.
Ser mãe e ser pai, aliás, não nos dá o poder de escolha pela possibilidade da morte. O livre arbítrio implica fazer a sua parte, não deixar ao Deus dará.
Então, a consulta tem cor, e cheiro, e gosto de farsa. Diversionismo sujo. Mas isso tampouco é novidade nesse circo Brasil.
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Recomendo a leitura da próxima postagem: sobre o inominável e seu nó nas tripas. Fakeada ou diverticulite aguda ativada, desta vez, pela farra ilimitada de fim de ano?
Linco assim que subir o texto, da lavra de Eliara Santana.
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Fontes requisitadas:
Tijolaço
Nem na consulta armada os antivacina convencem
Folha de São Paulo
Maioria em consulta pública é contra prescrição médica para vacinar crianças
Conjur
Audiência Pública: Representante do CNJ defende vacinação de crianças