por Sulamita Esteliam
Uma frase, do sociólogo italiano Domenico de Masi, em artigo publicado no Vila de Utopia, é o mote pelo qual trabalhadoras e trabalhadores brasileiros, a gente que carrega o país no lombo, deve se guiar para seguir em frente: “Eles passarão e nós estaremos aqui para recomeçar”.
Escolho começar pela resiliência, porque de resistência vivemos sempre. Sobreviventes é o que somos. E é indispensável voltar a esperançar.
Sim, me coloco no coletivo, pois sou trabalhadora, filha, neta e bisneta de trabalhadores: operários texteis e agricultores sem-terra; indígenas aculturados e imigrantes estrangeiros para substituir mão de obra escravizada.
Trabalho desde os 11 anos de idade, com carteira assinada desde os 15, com algumas interrupções, trabalhos temporários e frilas a rodo. Aposentei-me por tempo de contribuição – mal, por conta da alteração nas regras do jogo – o que me obriga a continuar na batalha para inteirar a merreca.
Minha prole, como a maioria de quem precisa defender o pão de cada dia, dificilmente se aposentará ou o fará bem tardiamente. Nem falo da segunda decendência, independentemente da qualificação.
A última mudança no sistema previdenciário selou a sorte das novas gerações, que não herdam negócios de família ou zeros à direita na conta bancária.
A classe trabalhadora está no limbo. Desmonte das políticas sociais, desemprego crescente, perda de direitos trabalhistas e previdenciários, o desmantelo dos sindicatos, o aumento da informalidade, queda drástica de rendimentos, retorno da inflação.
A fome invande os lares e ocupam as ruas, de forma devastadora.
E a culpa não é só da pandemia, que agravou, sim, as desigualdades sociais, porém não é a origem do caos. O ovo da serpente foi chocado lentamente, desde 2013, para eclodir em 2016, com o golpe que derrubou a presidenta Dilma Roussef para instalar a ponte para o abismo.
Tudo o mais é consequência, inclusive a perseguição e a farsa jurídico-midiática que levou Lula à prisão, sua condenação e perda de direitos políticos. A onda de mentiras que resultou na eleição do Coisa Ruim e na violação da nossa frágil democracia, a cada dia mais achacada.
“https://twitter.com/sulaesteliam/status/1519710232401874944?ref_src=twsrc%5Etfw
Para ficar no mundo do trabalho, algo que o ser que ocupa a Presidência da República desconhece, se o olhar ao redor não é o suficiente, é só dar-se ao trabalho de visitar os estudos do Dieese. Os mais recentes, relativos ao primeiro trimestre do ano são de chorar.
- O custo da cesta básica subiu nas 17 capitais-alvos da pesquisa e ultrapassa 500 reais. Significa que se for usar o dinheiro da “ajuda” do desgoverno, 400 reais, vai ficar devendo no mercadinho.
- Os reajustes salariais do período foram mais da metade abaixo da inflação medida pelo INPC.
- As mulheres são maioria absoluta no trabalho doméstico, onde 65 por cento das trabalhadoras são negras. O salário no geral foi reduzido, na média nacional, em cerca de 100 reais.
- Sem carteira assinada, o rendimento mensal da trabalhadoras doméstica cai ainda mais, pois já é menor em 40 por cento; as negras ganham 20 por cento menos do que as não negras.
Mais do que sempre não há o que celebrar. Mais do que nunca é preciso ter fé e lutar pelo direito de recomeçar.
Mais do que nunca é preciso cantar para alegrar os corações e marchar para tornar possível o amanhã tornar-se outro dia. Assim nos ensina Chico Buarque que nos inpira, e Lula que atiça, e Dilma que não se quebra.
As centrais sindicais, unidas, organizam a retomada das ruas, para a celebração do Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora, no próximo domingo, 1º de Maio, apesar de. O lema é Emprego, Direitos, Democracia e Vida.
Depois do jejum de dois anos de eventos virtuais, nossa gente bem que merece um refresco, com festa e vibração de classe, como nos velhos tempos. O ato principal é em São Paulo, com a presença de Lula, na Praça Charles Muller, no Bairro do Pacaembu.
Lá estarão lideranças dos movimentos sociais, instituições, parlamentares, partidos políticos, sociedade civil e organizações internacionais. Começa às 10h, com shows de artistas e ativistas. O evento será transitido ao vivo pela TV e Rádio PT.
No Recife-PE, o ato é no Parque 13 de Maio, a partir das 15h, e em Belo Horizonte-MG, concentração na Praça Afonso Arinos, e de lá passeata até a Praça da Assembleia.
Brasil afora, sobretudo nas capitais, há atos programados, confira:
Alagoas
Em Maceió, o ato começa às 9h, em frente ao Clube CRB, na Pajuçara. Com direito a subtema: Por um país sem fome e sem miséria. Participam movimentos populares, partidos e centrais sindicais.
Bahia
Em Salvador, o ato é no Farol da Barra ao longo do dia, e terá shows com Margareth Menezes e Jau. Pela manhã a Setre – Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte oferecerá serviços, inclusive a emissão do título de eleitor. Corte de cabelo, manicure e massagem e shows musicais. O ato político deve começar às 15h com lideranças sindicais, políticas e trabalhadores. Presença confirmada de Jerônimo Rodrigues, pré-candidato ao governo do estado.
Ceará
Em Fortaleza, a celebração começa às 9h, na Areninha do Pirambu. Concentração para a marcha dos trabalhadores que percorrerá as principais ruas do bairro em direção à Vila do Mar, na Barra do Ceará, onde se acontece o ato político e cultural. Atrações confirmadas: Léo Suricate (influencer), Banda Bode Beat (Nayra Costa e Daniel Groove) e o cantor Assun.
Distrito Federal
Em Brasília, o início da celebração é às 16h, no estacionamento da Funarte. Show da artista Ale Terribili, que vai homenagear Gonzaguinha, além da pré-estreia do documentário de Max Alvin: “O povo pode?”.
Espírito Santo
Em Vitória, ato político e cultural do 1° de maio às 9h na Praça Costa Pereira, com as atrações Banda de Congo, Coral Serenata e Bloco Afrokizomba
Goiás
Em Goiânia, o ato começa às 9h, na Praça do Trabalhador. Atrações confirmadas: Maíra Lemos (tributo à Marília Mendonça), Beaju, Mundhumano, Diego Mendes, Lucas e os Caras, DJ Genor Goiania
Maranhão
Em São Luís, o ato foi antecipado para a quinta-feira, 28, às 16h na Praça Deorodo. No dia 1° haverá panfeltagem na feita de João Paulo e Liberdade.
Mato Grosso
Em Cuiabá, o encontro será realizdo no Centro Pastoral para Migrantesa, na Avenida Gonçalo Antunes de Barros, 2785, às 15h.
Mato Grosso do Sul
Em Campo Grande, o evento também será antecipado, paro o sábado 30, embora o mote seja: 1º Maio da Esperança. A CUT-MS se une a movimentos sociais e populares, sindicatos e federações à Rua Dinamarca 1100 – região do Tijuca 2. Haverá carreata solidária para arrecadar cestas básicas a serem distribuídas a famíias desempregadas.
O material de divulgação não traz a hora.
Minas Gerais
Em Belo Horizonte, ato político das Centrais Sindicais às 9h, na Praça Afonso Arinos. Passeata até a Assembelia Legislativa, onde outro ato será realizado com tema voltado à reforma agrária.
Paraíba
Em Campina Grande, a atividade será realizada no dia 30, a partir das 9h, na Avenida Tavaraes Cavalcante, 94, com feijoada, forró e lançamento do Comitê Popular de Luta da CUT.
Paraná
Em Foz do Iguaçú, atividade internacional com a CUT, centrais sindicais do Brasil, Argentina e Paraguai, com apoio da Confederação dos Trabalhadores das Américas (CSA). O ato começa às 10h, na Praça da Paz, no centro da cidade. Na véspera, dia 30 de abril, será realizado um seminário internacional sobre a situação da classe trabalhadora na América Latina.
Pernambuco
No Recife o ato político-cultural acontece às 15h no Parque Treze de Maio, na Rua Princesa Isabel, em frente à Faculdade de Direito; organizado pela CUT-PE e demais centrais sindicais.
Rio de Janeiro
Na capital fluminense, o ato será às 10h da manhã no Aterro do Flamengo, altura da Rua Silveira Martins. Atrações: MC Galo, MC Gilo do Andaraí e MC Cacau, nas ‘relíquias do funk’
Rio Grande do Norte
Em Natal, o ato começa às 08:30h, na Praça das Flores – Petropólis, seguindo em caminhada até a Praia do Meio. A partir das 10h, shows e apresentações artísticas com Pretta Soul, Fernandinho Regis, Ariane Sandrine, Valério Felipe e Cinthia Simão.
Rio Grande do Sul
Em Porto Alegre, será realizado ato cultural a partir das 10h, no Espelho D´Água (Parque da Redenção). A revogação do Teto de Gastos e das reformas Trabalhista e da Previdência são destaques na celebração.
Santa Catarina
Em Florianópolis, atrações culturais, atividades de lazer e almoço no Largo da Alfândega, a partir das 10h.
Em Chapecó, Café cultural do Dia do Trabalhador, com música, poesia e roda de conversa, no CERCOM (Sede Campestre SINDICOM), às 15h.
Em São Miguel do Oeste, para marcar os 18 anos de atuação do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Urbanas: atividades culturais, música, almoço, bingo, das 9h às 14h, no Bairro São Sebastião.
Em Criciúma, Festival da Democracia, celebração que ocorre no sábado (30), das 14h às 21h, com música, atividades de lazer, debates políticos e piquenique coletivo.
São Paulo
O ato na capital paulista será na Praça Charles Muller, no Pacaembu, a partir das 10h. Entre lideranças sindicais, políticas e religiosas, além de outras personalidades, estarão no palco das centrais grandes atrações como a cantora Daniela Mercury, Leci Brandão. Dexter, Francisco El Hombre e DJ KL Jay, além de outras a serem confirmadas.
O evento em São Paulo será transmitido ao vivo pelo Youtube e Facebook da CUT, das entidades filiadas e das centrais sindicais; e pelo Youtube da TVT (Youtube.com/redeTVT). A TVT também transmitirá em sinal aberto pela TV, em São Paulo, no canal 44.1 e no ABC pelo canal 512 da Net.
Em Sorocaba, no interior do estado, a celebração será no Parque das Águas, das 14h às 22h. O ato conta com atrações como Emicida, Francisco El Hombre, Fernanda Teka e Flor Maria e Luca & Marcelo, além de Flavinho Batucada.
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Fontes recorridas:
Dieese: Trabalho doméstico no Brasil, Os reajustes salariais de março de 2022, Reajuste Cesta Básica, Boletim Especial Mulher
PT.org: 1º de Maio com Lula
CUT.org: Dia do Trabalhador e da Trabalhadora