O passeio do maiô

por Sulamita Esteliam

Assim como brotou, do nada, a enxaqueca se foi quando bem quis. Na minha lógica, se fosse remédio a solução, teria desaparecido logo de pronto. A sexta foi um terror.

O sábado amanheceu como se todos os dias tivessem sido luminosos. Então, levei meu maiô para passear na manhã de sol no meu quintal. Foi a primeira em uma semana.

Parecia que o Recife ia se liquefazer… Sair de casa, só de bote.

Quase nunca uso maiô. Só tenho este, cor de laranja madura, com as alças que se arrematam em tranças nas costas: comprei para retomar a atividade física, e ao sol, depois do resguardo da cirurgia de vesícula, há quatro anos.

Prefiro o biquini, que reduz o efeito claro-escuro na pele exposta à vitamina D no cotidiano. Além do mais, o espelho, o maridão e os olhares pela caminhada me dizem que as “duas peças” ainda me caem muito bem, obrigada. Apesar dos meus bem-vividos 67 anos.

E, se assim não fosse, não seria motivo para que não usasse biquini. Quem não gostar, que não olhe.

Fui sozinha pescar em pé. Vez por outra me dou ao desfrute. Euzinha comigo mesma também posso ser boa companhia.

No fim de semana, a praia ainda está de quarentena. Então, é território livre para o sossego. É o outro lado da pandemia: quem depende da atividade praieira para sobreviver está no oco do mundo…

O mar não estava pra peixe, à revelia do céu, mais ou menos, aberto: mexido e carregado, em tons de musgo. As ondas beijavam a praia em espasmos sofridos de maré secando, deixando um rastro de espuma amarelada, que agonia. Para quem chama fungo de parceiro, o banho de mar fica na vontade.

Mas, caminhar com os pés na arrebentação, ou no úmido da preamar de maré minguando, é um prazer orgástico. Definitivamente, vale o lugar comum: não tem preço.