Pandora Brasil: dólares a rodo, ossos em liquidação e crianças no balcão da morte

por Sulamita Esteliam

Pela manhã, na descida para a caminhada na praia, contei seis famílias inteiras na ponte sobre o canal de Boa Viagem: pai, mãe, avó, adolescentes, crianças de todas as idades, algumas pouco mais do que bebês.

O gramado da pracinha em frente à beira-mar está coalhado de gente, que despertava sob o sol ainda não escaldante: homens, em sua maioria, alguns casais, muitos jovens, mas também gente idosa. Duas dúzias, ao menos.

Nas praças de Belo Horizonte, todas que cruzei em minhas andas a pé pela cidade no mês que passei lá, o fenômeno se repete. Colchões e gentes empilhadas nos jardins, tendo a miséria e a fome, e quase sempre a repressão, como parceiras cotidianas.

A desgraceira se repete pelos sete cantos do país que um dia havia dizimado a fome, reduzido a população sem teto, e colocado as crianças e jovens onde é o seu lugar: na escola.

São ignorados solenemente pelos passantes, a pé ou motorizados, isso quando não são hostilizados. Estão incorporados à paisagem. 

E a esmola voltou a ditar as relações de trocas sociais. Povo bom é povo humilhado, de cabeça baixa, grato pelo prato de comida, pela roupa usada, o sapato gasto, o brinquedo remendado.

Não é apenas a volta da fome e o aumento da população vulnerável. O retrato da desgraceira é estampado por diferentes vias.  

Por exemplo, estudo recente divulgado pela Universidade Federal de Pelotas. Revela que, além da perda de mãe e pai, a pandemia de Covid-19 aprofundou a pobreza, a subnutrição, a falta de assistência em saúde – supressão de vacinas regulares inclusive – e educação de número considerável de bebês e crianças brasileiras.

Os números da Epicovid – pesquisa realizada pela UFPel em parceria com o Ibope -, dão a dimensão da tragédia humanitária do projeto gerido pelos sacripantas oficiais.

Nada menos que 867 crianças de até 4 anos e 194 crianças de 5 a 9 anos morreram no Brasil por Covid-19. Também foram vítimas da doença 273 adolescentes de 10 a 14 anos e 808, de 15 a 19 anos.

Os dados foram apresentados no 9º Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, realizado pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), e estão publicados no Jornal GGN – linco mais embaixo.

Como diria o poeta pernambucano Zé de Guedes, “dá dor na alma!” Digo que é preciso ser de aço para não condoer-se e indignar-se.

Quando mais quando se sabe que, quem conduz nossos destinos, e se assenta sobre cadáveres, nada de braçada na politica cambial para encher as próprias burras.

Bem rentáveis e camufladas em offshores em paraísos fiscais, escândalo da vez denunciado pelo CJI – Consórcio de Jornalistas investigativos.

A mídia convencional fez de conta que não viu. Prefere estampar a prisão da mãe que roubou um pacote de bolacha para dar à cria faminta. Afora que o telhado de vidro é amplo, geral e irrestrito.

O colega Luís Nassif lembra, no GGN, que “quando vieram à tona as contas do HSBC, apareceram correntistas dos grupos de mídia”.

O escândalo se referia á filial suíça do banco. Estourou em 2015, denunciado pelo mesmo CJI, mas se referia a negociações a partir de 2007, que foram entregues ao governo francês. 

Tudo isso sem contar o caso Mossack Fonseca, que trouxe junto o balaio e a tampa: a Operação Lava Jato e a Rede Globo de Televisão.  E o Nassif é quem, também, não deixa a memória morrer. Links ao pé da postagem.

A partir daí, capturei alguns tuítes do Jeff Nascimento, advogado de direitos humanos com atuação nas áreas do Direito Internacional e de desigualdades. Provam o que referimos.

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Notícia corriqueira, pois não?

Mas o Congresso Nacional quer saber, e convocou o ministro da Economia, e convidou o presidente do Banco Central, que agora é independente do governo, mas faz a política cambial, que é pública, a dar explicações.

Acontece dia 19, mesmo dia da leitura do relatório da CPI do Fim do Mundo.

Qual o problema em guardar dinheiro no exterior, se as offshores estão declaradas? É proibido ganhar dinheiro neste país? Vozes estridentes de gente autocentrada certamente questionam.

Primeiro é imoral, ou se preferem, nada ético em si tratando de agente público. Quanto mais que transferir recurso do pobre para os milionários é a única política pública vigente no desgoverno, alguém observou, com propriedade, nas redes sociais. 

Sabe o que é informação privilegiada? O sujeito que faz a política, se beneficia da política. Ou, se prefere, o bode toma conta da horta e dela se alimenta.

Na mesma escala, é grave conflito de interesses, como bem define o senador Randolfe Rodrigues. Eu, agente público, recorro à desvalorização da moeda, enquanto meus fundos em dólar engordam a pleno vapor.

Enquanto isso, na fila do osso… É pior do ocorria  em 1958, conforme denuncia Carolina de Jesus em Quarto de Despejo. Agora, cabe liquidação. Vendem o osso que antes era doado para fazer sabão. De graça nem mais injeção na testa.

É desfaçatez abjeta.

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Fontes requisitadas:

Jornal GGN

Estudo aponta impacto da pandemia em bebês e crianças

A maneira de Campos Netto e Guedes se livrarem das suspeitas

Como a imprensa brasileira e a internacional cobriram o PandoraPapers

Guedes e Campos Netto são chamados ao Congresso para explicar paraísos fiscais

BBC Brasil

Entenda o escândalo bancário envolvendo o HSBC

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