por Sulamita Esteliam
Reformulo as perguntas e renovo a reflexão que fiz mais cedo no Twitter e no Instagram, diante da barbárie do assassinato a pauladas do jovem congolês Moïse Mugenyie Kubagambe, 24 anos, no Quiosque 8, na Barra da Tijuca, semana passada: o que há com o Rio de Janeiro?
Em que curva a outrora Cidade Maravilhosa se perdeu? Quantas Marieles, Moniques, quantos Moïses, Andersons, Amarildos, terão que morrer para que se resgate a cidade da barbárie cotidiana em que se perdeu?
Até quando a indignidade? O Rio não merece, o Brasil não merece, o povo não merece a tortura cotidiana do racismo, da xenofobia, do desrespeito à vida, da banalização da canalhice, da violência pela violência, do ódio como máquina de moer gente e destruir histórias.
Moïses Kubagambe veio menino para o Rio. A família se refugiou fugindo da violência da guerra civil em seu país.

Supremo horror: o rapaz foi espancado, com paus e taco de beisebol, até a morte por reivindicar seu direito: o pagamento de duas diárias trabalhadas e em atraso. Seus familiares denunciam também o roubo de órgãos do morto; o IML nega.
O crime aconteceu na segunda-feira, 24. O enterro aconteceu no domingo, 30, no Cemitério do Irajá, sob protestos da família e dos amigos.
A ironia, aviltante pelo simbolismo, é o nome do quiosque: Tropicália. O acinte não escapou a Caetano Veloso.
Em sequência de três tuítes Caetano lembrou parceiros e parceiras do movimento, que certamente se alinham com a dor e a revolta pela violência inominável.
A repercussão do caso fez a Prefeitura do Rio se mexer: o quiosque está fechado, como se vê na imagem do tuíte do Caetano, até que a investigação seja concluída.
Na verdade, não tem muito o que investigar no que se refere ao homicídio: há vídeo gravado pela câmera de segurança mostrando o espancamento, iniciado pelo próprio dono do quiosque.
A policia civil não entrega o nome, mas ele já foi tornado público pelo Anonymous: Luciano Martins de Souza. Segundo o grupo de cyber-ativistas, atividades milicianas o protegem.
Três homens já estão presos, e confessam o crime. Vão responder por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e sem possibilidade de defesa por parte da vítima.
A polícia só revela o nome de um, o vendedor de caipirinhas Fábio Silva. O segundo homem se entregou. E o terceiro não foi identificado, sabe-se lá a razão.
Certo é que até o fechamento desta postagem não se tinha notícia do paradeiro do mentor e líder do assassinato. O dono do quiosque certamente tem costas quentes.
Nas redes sociais o assassinato do congolês foi o assunto mais comentado do dia: #JustiçaparaMoisesKubagambe.
A bancada do PT no Senado acionou a Comissão de Direitos Humanos para acompanhar as investigações. O partido exige investigação rigorosa do crime.
No meio do dia, um vídeo, compartilhado pelo Cartunista das Cavernas, me levou às lágrimas pela força da imagem e da mensagem: “Sem Justiça, não tem paz!”
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